Um encontro entre as principais lideranças dos blocos afros de Salvador foi realizado no Baobá Café Social. O bate-papo intitulado “Somos mais que Carnavais”, teve o objetivo de divulgar para público as intervenções sociais promovidas pelos blocos nas comunidades onde estão sediados. Na mesa, os diretores do Cortejo Afro, Alberto Pitta, do Olodum, João Jorge, e do grupo “Os Negões”, Valmir França, falaram sobre suas trajetórias e sobre os avanços obtidos pelos afrodescendentes após a politização dos blocos de origem negra.Fundado em 1982, o bloco “Os Negões” foi criado por jovens negros que ansiavam por sair no Carnaval de Salvador. Na sua primeira participação, o grupo contou com 72 componentes e homenageou o músico e compositor Batatinha. De lá para cá, o bloco ganhou dimensões maiores, tornando-se cada vez mais consciente do seu papel na sociedade. “Nos últimos cinco anos estabelecemos uma ligação mais forte com música engajada, que combate o racismo e a discriminação”, afirmou Walmir França, um dos fundadores do grupo.Já o grupo Cortejo Afro, fundado em 1990 pelo artista plástico Alberto Pitta, nasceu com a proposta modernizadora em termos de som, estética e postura mais crítica. Após se firmar como um dos blocos afro mais importantes de Salvador, o Cortejo voltou-se para a área social, oferecendo cursos gratuitos para jovens e crianças do Conjunto Pirajá I. Dentro do Terreiro Ilê Axé Oyá, de mãe Santinha, 40 alunos aprendem dança, música, percussão e capoeira. “Temos ainda um projeto pronto para ensinar tênis e natação para as crianças, estamos agora em busca de patrocínio”, declarou Pitta.Revolução Olodum“O Olodum foi uma revolução dentro da revolução”, assim declarou João Jorge ao falar sobre o surgimento de um dos blocos que mais contribuíram com a conscientização do Carnaval da Bahia. Até 1983 os grupos afro não tinham assumido a própria negritude e nem tinham um toque musical que os identificasse. Somente após as iniciativas de renovação do Olodum, outros blocos passaram a se comportar com mais autenticidade. A composição “Faraó”, de 1987, tornou-se um marco da música baiana e alavancou o sucesso do grupo, mas haviam objetivos mais profundos. “Queríamos transformar o carnaval festivo em ações afirmativas dentro das comunidades negras”, afirmou João Jorge.Hoje, o Grupo Cultural Olodum oferece cursos de percussão à crianças e, em conseqüência, empregos a centenas de jovens músicos. Além disso, desde 2001 o grupo mantém um convênio com a Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), que reserva aos seus componentes quatro bolsas de estudos em cursos de graduação. Afirmando ser um “dinossauro da militância”, João Jorge parafraseou Nelson Mandela: “Luto contra qualquer tipo de supremacia, seja ela branca ou negra”.
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