domingo

Apenas 3,8% dos negros conseguem ser empreendedores

Muitas estatísticas já comprovaram que as pessoas negras ou pardas estão em menor quantidade no mercado de trabalho se comparadas às pessoas de cor branca. Mas um estudo pioneiro, realizado pelo sociólogo Jorge Monteiro, resolveu centrar-se na questão do empreendedorismo e chegou à conclusão de que, em meio a essa população conceituada como negra ou parda, apenas 3,8% conseguem atuar como empresários, administradores, profissionais de nível superior.
Esta abordagem foi o tema do livro "O Empresário Negro", lançado em Brasília, numa iniciativa da Associação Nacional dos Coletivos de Empreendedores Afro-Brasileiros (Anceabra).
Antes de tudo, o sociólogo afirma: o objetivo deste trabalho é, justamente, chamar a atenção para a parcela do empresariado negro do Brasil que quer crescer e para os que ainda não são empresários, mas gostariam de ser. "O livro busca encorajar essas pessoas a organizarem suas empresas, irem em busca de apoio e, principalmente, gerar oportunidade de negócios, não só entre negros, mas no mercado em geral", disse Monteiro.
Os dados estatísticos da pesquisa foram resultantes de um mapeamento feito a partir dos censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD). Os dados mais recentes apontam que mais de 60% da população brasileira são afrodescendentes, colocadas na categoria de "parda" ou "negra".
"Observei os dados estatísticos e, ao mesmo tempo, fui comparando com o grau de empreendorismo existente. Apesar de algumas dificuldades em conseguir créditos, ter oportunidades, muitas pessoas conseguem empreender, montar seu negócios, progredir. Só que o número de empreendedores negros é muito pequeno se comparado ao empreendedor branco", explica.
Diante das dificuldades encontradas pelo empresariado negro, um dos pontos essenciais do livro é motivar a criação de um projeto nacional de desenvolvimento da empresa afro-brasileira, além de criar associações de empresários negros, que possam passar à frente suas experiências.
O sociólogo afirma que esta já é uma das principais lutas do movimento negro no Brasil, e que é necessário o apoio das autoridades municipais, estaduais e também da esfera federal.
"A nossa perspectiva não é de gueto, não é sectária. Queremos comercializar com a sociedade em geral", afirmou. Monteiro é sociólogo, com Mestrado em Relações Raciais e profissional da área de recursos humanos.

sexta-feira

Movimento negro reivindica mais emprego para jovens


Por Adenilton Cerqueira

Não bastam só políticas de ações afirmativas, a juventude negra também exige respeito à diversidade. Além do acesso à universidade, nós queremos a garantia de que teremos espaço assegurado no mercado de trabalho. As reivindicações são muitas e todas elas norteadas pelo fio condutor de que é preciso repensar o Brasil a partir da ótica do povo negro. Quando se fala em perspectivas para a juventude negra, o jovens consideram que não há perspectivas, mas sim a expectativa de que as políticas afirmativas gerem muitos frutos. O assunto foi discutido no Fórum de Diálogos África e Diáspora, que integra a programação da II Conferência de Intelectuais da África e da Diáspora (Ciad). Para debater o tema Perspectivas para a juventude negra na África e diáspora, a mesa foi formada essencialmente por jovens militantes.


Realizado paralelamente nos auditórios da reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), o Fórum de Diálogos África e Diáspora abrindo espaço para nove mesas-redondas. "Perspectivas não temos muitas, o que temos é um conjunto de expectativas que emergem do programa de ações afirmativas e da possibilidade de aprovação do estatuto da igualdade racial", avalia o estudante de ciências sociais e integrante do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e do Coletivo de Negros, Matheus Gato de Jesus. Para ele, as conquistas atuais representam um grande avanço na história, mas já é possível perceber que há limites estruturais dentro dessa porta que se abre. Para contextualziar, ele cita como exemplo a própria Ciad.


"Embora seja um evento para negros, se você olhar para as pessoas que estão trabalhando no apoio, verá que o negro é minoria. Entre dez atendentes brancas, tem duas negras. Isso vai contra todas as discussões da conferência e significa que quem pensou o evento não fomos nós", critica o estudante maranhense. Vindo de uma outra realidade, onde os negros são minoria não só na voz como na própria presença física, a coordenadora da Central Única das Favelas (CUF) no Rio Grande do Sul, Malu Viana, 32 anos, sabe exatamente a dimensão da exclusão social e racial.
De acordo com ela, falar em perspectivas para a juventude negra é um desafio em um país como o Brasil, onde existe uma falsa democracia. "O nosso desafio é trabalhar a consciência política dos jovens, partindo do ponto de que este é um aspecto inexistente. Para isso, temos que nos erguer diante de uma situação desfavorável porque as políticas não chegam as nossas comunidades e quando chegam são através de ações assistencialistas ou eleitoreiras", explica.


Ela diz ainda que, para o negros do Rio Grande do Sul, a situação é ainda mais complicada porque têm que se reerguer em meio a um massacre ideológico onde as culturas alemã e italiana são externadas o tempo todo. "Lá existem incentivos para as culturas italiana e alemã e a negra e a indígena são ignoradas. É isso que precisamos mudar", disse Malu Viana.


São jovens que estão em diferentes pontos do país, mas todos eles compartilham uma realidade onde a exclusão social e racial são expressivos demarcadores territoriais. De Salvador, o diretor executivo do Instituto Steve Biko, que é doutor em economia pela Universidade Estadual de Campinas, Sílvio Humberto Cunha, 43 anos, também conhece esta realidade. "Vivemos em uma sociedade em que a branquitude é um valor, é a partir da cor da pele que se atribui valor às pessoas", diz.


Convidada à mesa, a cantora Angélique Kidjo, do Benin, chamou a atenção da juventude para a necessidade de percepção de que antes de ser negro, branco ou amarelo, todos são seres humanos. "O negro sofreu muitas dores, foram tratados piores do que um animal. Está na hora de largar esta dor e olhar para o futuro, para os nossos atos e nossas palavras. Nós devemos continuar a luta por um lugar para todos os seres humanos. Eu, perante o mundo, me posiciono como ser humano, porque o ser humano é acima de tudo o que tem dentro de si", disse a cantora.


Reserva de vaga é coisa antiga
"Reserva de vagas não é novidade. Na década de 60, filhos de agricultores foram às universidades cursar agronomia e ninguém foi contra estas cotas". Serena e munida de informações valiosas, a professora Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, conselheira até abril da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE) foi uma das convidadas da mesa que tratou de políticas de ações afirmativas e os reflexos nas áreas de educação e cultura, ontem à tarde na Uneb, dentro da programação do Fórum de Diálogos África e Diáspora. Assunto que já extrapolou embates acadêmicos e políticos, o tema se alastra em discussões por todos os cantos do país.


A estudiosa, que leciona na Universidade Federal de São Carlos, no interior de São Paulo, defende que a política de reservas de vagas deve ser destinada para estudantes oriundos de escolas públicas. "A partir daí, seria feito um recorte: com percentagem para negros e indígenas, sem desconsiderar os brancos. Ninguém estará imune às seleções. Se queremos uma sociedade democrática, todas as populações devem estar representadas", afirmou. Toda a população estará acompanhando a discussão na educação brasileira sobre este assunto, já é considerado um avanço para os defensores da política.


A intenção é que o sistema de cotas seja visto como uma meta dentro do programa de ações afirmativas, integrando um plano maior de inclusão social. "Não é questão mais de privilégios, mas da construção de uma sociedade igual, justa e equânime. As universidades atualmente só contemplam uma classe social: da média para cima", explicou Petronilha, destacando que ação afirmativa não é invenção brasileira, nem do movimento negro.


A Índia foi apontada pela pesquisadora como o primeiro país a adotar programa de ações afirmativas para a casta considerada inferior pelo sistema social indiano. "Há ainda experiências de reservas de vagas na Malásia, Inglaterra, EUA, África do Sul. Países da América Latina, como Chile e Colômbia, estão desenvolvendo programa com regime de ações afirmativas. Nossa iniciativa está também sendo observada por outras nações", declarou.


Relatora do parecer do CNE à lei 10.639/2003, que estabelece as diretrizes curriculares nacionais para a educação das relação étnico-racial e para o ensino de história da cultura afro-brasileira e africana nas escolas do país, Petronilha acredita que as ações afirmativas estão mexendo com as crenças de uma sociedade excludente. "Nosso projeto é de uma sociedade onde todos venham a ter direitos civis, econômicos e sociais. Toda a população e cada um como é", disse.

terça-feira

Projeto beneficia comunidades do Litoral Norte


por Adenilton Cerqueira

A Fundação do Banco do Brasil pretende contratar consultores na área em torno do Litoral Norte da Bahia, através do projeto Berimbau, visando promover desenvolvimento regional sustentável, reduzir desigualdades e criar melhores condições de vida para a população do Litoral Norte da Bahia.
O Programa irá gerar trabalho e renda, através do fortalecimento do associativismo comunitário, do resgate da cultura local, educação e respeito ao meio ambiente.O projeto atuará nas áreas de Vila Sauípe, Diogo, Santo Antônio, Vila Sauípe e Porto de Sauípe, nos municípios de Mata de São João e Entre Rios, média de 76 km de distância de Salvador. De acordo com a Secretária da Rede de Tecnologias Limpas e Minimização de Resíduos-TECLIM, da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Suzete Mendes, o projeto já gerou emprego e renda na Costa de Sauípe, no desenvolvimento do artesanato, da agricultura familiar, da reciclagem de resíduos, da pesca artesanal e do turismo comunitário.Os interessados deverão enviar currículo e carta de apresentação até o dia 7 de dezembro, no endereço Sauípe S/A - Programa Berimbau -- A/C Francis Ribeiro.

domingo

Economia Solidária resgata arte afro-descendente (ASN)




Por Adenilton Cerqueira


Ação do Sebrae/BA e do Banco do Brasil também contempla, em projeto-piloto, cultura de terreiros e quilombos baianos.
Uma iniciativa que alia inclusão social à valorização da arte e da cultura da Bahia. O Projeto de Empreendedores da Economia Solidária, desenvolvido pelo Sebrae na Bahia desde 2006 em parceria com o Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) do Banco do Brasil, promove o trabalho de 14 cooperativas e associações localizadas principalmente no Bairro da Paz, em Salvador. O Sebrae/BA também começou um projeto com 200 terreiros e quilombos para geração de emprego e renda para estas comunidades.
“Nossa meta é promover o desenvolvimento no sentido mais amplo, para melhorar o quadro social em que essas pessoas vivem e formar uma grande rede sustentável de economia solidária com qualidade na produção para chegar ao mercado”, explica Dimara Dantas, gestora local do projeto. O ‘Empreendedores da Economia Solidária’ faz parte da Carteira de Comércio do Sebrae/BA.
O projeto trabalha com associações de diversos ramos. A Cooperativa Semente da Paz produz peças de artesanato a partir de material reciclado como papel jornal. A Cultura Artes e Percussão (CAP) cria instrumentos musicais de percussão como berimbau, pau-de-chuva e surdo. A Cooperativa NOVODENOVO constrói móveis como poltronas e pufs com garrafas PET. A Cooperativa Raízes do Povo de Israel (COOPRPI) é formada por mulheres que costuram e bordam bolsas.
O programa leva capacitação em gestão empresarial às associações e cooperativas participantes. Também promove os produtos criados por estes artesãos e artistas em desfiles de moda e feiras. As cooperativas de economia solidária apoiadas pelo Sebrae puderam mostrar um pouco de seu trabalho na Feira do Empreendedor de Salvador.
Quando alguém compra um dos produtos apoiados pelo projeto recebe um cartão que traz uma sinopse sobre a cooperativa que criou aquele artigo junto com os contatos como telefone, endereço e e-mail. “Os produtos que trabalhamos não são comerciais. Eles agregam um valor social e trazem junto uma história de vida cheia de luta”, afirma Dimara Dantas.
Indumentárias
O Sebrae/BA incluiu no Projeto Empreendedores da Economia Solidária 200 terreiros e quilombos baianos. A ação acontece em caráter piloto. Dimara Dantas informa que a intenção do Sebrae é atingir futuramente um universo de 1,2 mil quilombos e terreiros. A iniciativa estabelece parceria com a Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (Acbantu).
O Sebrae/BA decidiu iniciar o projeto depois de ser procurado pelos representantes dos quilombos e terreiros. “Muitas dessas pessoas, como os pais de santo, estão passando necessidade”, revela a gestora.
As comunidades que vivem nos terreiros mantêm uma rica produção cultural e religiosa de peças artesanais, como bonecos que simbolizam os orixás, e indumentárias para os rituais de candomblé, como roupas, coroas, braceletes e colares. Mesmo assim não sobrevivem de seu ofício. “Por não terem um perfil empreendedor, os artesãos não conseguem se auto-sustentar. O Sebrae quer passar para eles noções importantes da gestão de um negócio, como a formação de preços”, explica Dimara Dantas.
Ex-membro da Timbalada, Luís Augusto comanda a entidade Cultura, Artes e Percussão (CAP). Junto com oito jovens trabalha com 50 meninos do Bairro da Paz. Eles fabricam seus instrumentos para geração de renda e uso próprio em apresentações. Luís agradece o apoio que tem recebido com o Projeto Empreendedores da Economia Solidária. “O Sebrae está nos mostrando como entrar no mundo dos negócios por meio da arte e da cultura”, diz.
A costureira Áurea Barreto, do Centro de Caboclo Sultão dos Matos, também elogia o apoio do Sebrae. “Estamos tendo a oportunidade de mostrar os nossos produtos”, afirma. “Nos eventos em que o Sebrae nos leva, nos aproximamos do público”, conta Leonice Jesus da Silva, que costura e borda com palha da costa, material que vem da África.
“Ganhei um apoio importante para caminhar com meus próprios passos”, comenta Jadson Dias, artesão que, a partir de materiais como cobre, lata e latão, cria braceletes e outros artefatos para rituais de candomblé.


Serviço:

Sebrae/BA - (71) 3320-4300

Moda Afro Cidadã/Associação do Lobato – (71) 3218-6967

Colibris Calçados – Artefatos de Couro – (71) 8124-8672

Cooperativa de Catadores e Reciclagem de Resíduos Sólidos e Agentes Ambientalistas do Bairro da Paz (Cooperpaz) – (71) 9931-6842

Cooperativa Raízes do Povo de Israel (COOPRPI) – (71) 3392-3774

Cooperativa de Produtos e Serviços para a Construção Civil (CPS) – (71) 3368-0476

Cooperativa NOVODENOVO – (71) 3621-1692 / 9902-6395

Cultura, Artes e Percussão (CAP) – (71) 8853-3661 e (71) 3368-2609

Cooperativa Semente da Paz – Artesanato em Papel Jornal e Outros Materiais Reciclados – (71) 4151-5138 / 9103-7058

terça-feira

Agenda Social Quilombola


A Agenda Social Quilombola se baseia em metas e recursos empenhados pelo Governo Federal para viabilizar o acesso à terra, saúde, educação, construção de moradias, eletrificação, recuperação ambiental, incentivo ao desenvolvimento local, assistência social das famílias quilombolas e pleno atendimento aos programas sociais, como o Bolsa Família.
A meta é atingir 1.739 comunidades - localizadas em 22 estados, 330 municípios e 128 territórios rurais até 2010. Serão beneficiados cerca de 50% do universo de 1.700.000 quilombolas. Grande parte dessa população está concentrada na Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Sul, estados que possuem mais de 100 comunidades.
Ao atender as necessidades das comunidades quilombolas, o Governo Federal estará melhorando as condições de vida de milhões de brasileiros residentes em municípios onde esses grupos estão localizados.
Mais saúde, educação, trabalho e renda, saneamento e moradia propiciam qualidade de vida para toda a população. E todos fazem parte dessa mudança: União, Estados, Distrito Federal, Municípios, iniciativa privada e sociedade, desde a implementação até a avaliação dos indicadores do Programa.
ACESSO À TERRA Das 1.170 certidões de auto-reconhecimento expedidas, o Governo Federal pretende concluir 713 relatórios até 2010. Os documentos são determinantes para o processo de regularização fundiária, pois atestam o reconhecimento da presença dos quilombos em determinado território e a demarcação das terras por meio de estudos científicos com laudos antropológicos e históricos.
Para a etapa subseqüente, indenização aos ocupantes das terras demarcadas e tituladas, o Governo Federal destinou recursos para uma área total de 2.580.000 hectares, a fim de possibilitar a regularização fundiária de 60% das comunidades quilombolas demandantes.
PROMOÇÃO DA SAÚDE Cobrir a totalidade dos 47 municípios destacados na Agenda Social Quilombola é a meta na área da saúde. Através de convênios com as prefeituras, o Governo Federal vai possibilitar o atendimento da população pelos programas de Saúde da Família e de Saúde Bucal. Equipes de profissionais de saúde farão atendimentos diretamente nas comunidades, o que confere respeito aos saberes e hábitos tradicionais.
Na área de saneamento básico, 548 comunidades serão contempladas com obras e instalações para abastecimento de água potável encanada e melhorias sanitárias domiciliares.
PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO O aporte no ensino e na aprendizagem de crianças, jovens e adultos quilombolas corresponde à meta de educação. Serão distribuídos 280 mil exemplares de material didático com conteúdos relacionados à história e à cultura africana e afro-brasileira, como determina a Lei 10.639/03. Ainda como estratégia de implementação deste instrumento legal, haverá a capacitação de 5.400 professores da rede pública de ensino fundamental.
A melhoria das instalações escolares é outra meta da Agenda Social Quilombola para a educação. Serão construídas cerca de 950 salas de aula para suprir a demanda dos estudantes quilombolas. Já a universalização do acesso à alfabetização vai proporcionar a inserção de jovens e adultos quilombolas ao mundo do conhecimento e da informação.
MORADIA Unidades habitacionais seguras e com as instalações adequadas, como encanamentos e fiação elétrica, mudarão para melhor a vida de milhares de famílias quilombolas.
Levar energia elétrica para toda a área rural, sobretudo as comunidades remanescentes de quilombos, tem sido o objetivo do Programa Luz para Todos. A previsão é zerar o déficit existente até 2008, expandindo para todos os brasileiros o serviço de energia elétrica.
MEIO AMBIENTE A relação harmônica com a natureza é inata à história das comunidades quilombolas, pois os recursos naturais garantem, por séculos, a sobrevivência alimentar dessas populações. Na Agenda Social Quilombola haverá investimento para a recuperação ambiental das comunidades, cujos bens naturais foram reduzidos por ações externas.
O aproveitamento da água para o consumo e a produção local será possibilitado pela construção de cisternas em localidades com dificuldades de abastecimento de água e escassez de chuvas.
DESENVOLVIMENTO LOCAL Criar e fazer bom uso das oportunidades existentes nas comunidades são objetivos das ações de fomento ao desenvolvimento local e à inclusão produtiva a serem identificadas e potencializadas por cursos e oficinas de desenvolvimento econômico e social e geração de renda. Serão atendidas mais de 2.800 comunidades quilombolas com iniciativas de incentivo ao desenvolvimento sustentável.
CIDADANIA A participação ativa dos representantes dos quilombolas em esferas de formulação, negociação e proposição política também receberá investimento dos Governos Federal, Estaduais, Distrito Federal, iniciativa privada e sociedade civil. A proposta é fomentar a participação e o controle social dos quilombolas, visando a aplicação dos direitos sociais e de cidadania.
TRANSFERÊNCIA DE RENDA E ASSISTÊNCIA SOCIAL A universalização do Programa Bolsa Família entre os quilombolas é outra meta da Agenda Social Quilombola. Serão milhares de famílias com incentivo do Governo Federal para cobrir as despesas com educação, saúde, alimentação e do orçamento doméstico em geral. Entre os beneficiários de cestas de alimentos, o Governo Federal almeja expandir a cobertura para mais 33.500 famílias quilombolas, ano a ano, até 2010.
Prestar assistência social às famílias quilombolas é a missão dos Centros de Referência em Assistência Social. Até 2010, o Governo Federal construirá unidades em mais de 850 municípios com comunidades quilombolas.
Importante mecanismo para identificar a situação alimentar e nutricional dos quilombolas, a Chamada Nutricional Quilombola tem revelado quadros de extrema pobreza e comprometimento do desenvolvimento físico dessa população. Projeta-se mais duas pesquisas para o período 2008 e 2010, a fim de gerar subsídios para políticas públicas que oportunizem uma alimentação saudável e garanta as condições básicas de nutrição dos quilombolas.
A Agenda Social Quilombola é mais uma estratégia do Governo Federal, desenvolvida em parceria com Governos Estaduais, Distrito Federal, Prefeituras, iniciativa privada e sociedade civil, para promover a igualdade racial e superar as desigualdades raciais e sociais no país. É mais cidadania, mais inclusão e mais dignidade para todos os brasileiros

segunda-feira

Bloco temático com participção da comunidade abriu o desfile de 2008

Reportagem Tonho Matéria
O MESTRE TONHO MATÉRIA NO COMANDO DO BLOCO DA CAPOEIRA LEVA DIVERSIDADE CULTURAL PARA A VENIDA

“Dança da malandragem, com muitos rituais. Brincadeira de movimentos com malícia. Na dança negra de pés no chão a agilidade da esquiva e a esperteza da fuga. E de repente, ante os olhos surpresos do adversário, o gesto rápido. O ataque fulminante. Então, prostrado, o inimigo se dá conta de que foi vítima da mandinga”. Isto é o que chamamos de capoeira, essa luta de resistência criada no recôncavo baiano pelos negros Bantos de Angola e que foi perseguida por muito e muito anos e hoje é tratada como patrimônio imaterial do Brasil e porque não dizer da Bahia. A capoeira foi proibida pela república e essa mesma república em uma outra estância lhe transforma em diversos pontos de cultura espalhados no país. Hoje, universidades, empresas particulares, academias, Industrias, canais de comunicação, etc. Vêem a capoeira como elemento de transformação social.
Duas semanas antes do carnaval, na cidade de Salvador, só se ouviam os burburinhos em todos os cantos, eram os amantes e praticantes de capoeira de varias partes do planeta que esperavam ansiosos para ver e participar do desfile do Bloco Afro Mangangá Capoeira, que saiu com o tema Capoeira e suas Culturas Aparentadas, sugerido pelo ex-diretor do Forte da Capoeira Dr. Leal.
Para contar essa história e tantas outras, o Bloco Afro Mangangá Capoeira pilotado por Tonho Matéria, que vestido com um figurino nas cores azul e prata simbolizando Ogum criado pela figurinista Diana Moreira, apresentou uma diversidade cultural na avenida e contou com diversas alas. Com a parceria de grandes amigos como Negra Jhô que trouxe as alas das baianas com uma big fantasia com papel de café, orixás e dança afro com pinturas no corpo que foi coreografado por Liu Arrison (Ator do Filme Ó Pai Ó) e supervisionado pelo mestre de capoeira e dançarino Flecha, além do Dançarino e Coreógrafo Monza Calabar que touxe da Argentina uma saia de Iemanjá de 6 metros de comprimento onde a rainha das águas salgadas deu a luz a todos os orixás na passarela.
A atriz Sue Ribeiro coordenou uma ala com terno de reis e folguedos nordestinos como maracatu, a burrinha, frevo e bumba meu boi que derão uma visibilidade e um colorido maravilhoso ao bloco e ao desfile. Mestre Pelé do Tonel com sua indumentária luxuosíssima e com tanta exuberância, provou que a sua energia não tem limites quando se fala em malabarismo com seu tonel. A Companhia de Dança e Ritmos da Bahia do mestre João de Barro também brilhou ao levar uma ala de capoeira show.
Maculelê, puxada de rede, bonecos gigantes, além dos Ogans Paulo Tré, Tatá e Alex, do terreiro Ilê Axé Odê Tolá, do Samba de Chula do contra mestre Boca e das orquestras de berimbaus do Grupo de Capoeira Abolição sobre a regência do contramestre Bobô e do Pólo de Capoeira do Município de Lauro de Freitas sobre a regência dos mestres Saci, Regi, Boca e Coveiro com 200 pessoas tocando berimbau e uma banda percussiva com 70 homens ao comando do maestro Bira Jackson que veio vestido com um figurino simbolizando Exu, também criado por Diana Moreira.
O Trio elétrico decorado por André Cunha foi coberto de palhas de mareô, ferramentas de Ogum, TVs de Plasma, laser e um canhão de chuva de confete na cor de prata. O bloco desfilou na quinta-feira, às 20h, no Circuito Campo Grande, fazendo uma homenagem ao lendário Besouro Mangangá, ou Manoel Henrique Pereira, soldado do Exército nascido no século XIX, em Santo Amaro da Purificação, e capoeirista conhecido que, segundo a lenda, tinha poderes sobrenaturais. No dia 2 de fevereiro no carnaval para Iemanjá, o bloco promoveu um belíssimo arrastão junto com Carlinhos Brown e o Cortejo Afro e na quarta-feira de cinzas mais de 2 mil capoeiristas acompanharam o Arrastão da Timbalada.
O sonho de colocar a Capoeira aconteceu quando em 2002 o Carnaval homenageava as raízes e heranças africanas. Daí então o publicitário, cantor, compositor e mestre de capoeira Tonho Matéria começou a falar da capoeira como tema do Carnaval, o que só se concretizou depois de seis anos de tentativas. "Contei com a parceria do jornalista e produtor cultural Badá, do nosso Rei Momo Clarindo Silva e do ilustríssimo mestre Boa Gente, que não só ajudou pra que a capoeira fosse o tema do carnaval como criou uma ala de dança afro com diversos estrangeiros e seus alunos do Vale das Pedrinhas para o bloco. Além de vários capoeiristas que votaram pela Internet" revelou Matéria, que idealizou um megadesfile.
O Bloco da Capoeira não foi comercializado. "Os capoeiristas usaram suas próprias roupas e cada ala desenvolveu suas indumentárias", explica Matéria. "Cada Mestre ficou responsável por inscrever sua associação, que podia vir com quantos alunos quisesse", complementou.
Diversos grupos e associações de capoeira compareceram ao desfile do bloco como parceiros, são eles: Mangangá, Abolição, Topázio, Jalará, Kilombolas, Centro Cultural de Capoeira Angola Bonfim, Zumbi, Associação de Capoeira Mestre Bimba, Stela Mares, Esquiva, Associação de Capoeira Cobra Can, Bahia Capoeira, Alegria do Mestre Canjiquinha, Grupo de Capoeira Expressão Corporal, Filhos de Oxossi Guerreiro, Academia Regional de Itinga, Unicar, Capoeira Guerreiros, Iúna, Palmares, Kirubê, Educarte Vadiação, Maré, Calabar, Associação de Capoeira Mestre Boa Gente, Sete Quedas, Engenho, Camugerê, Raça, Ginga Nativa Capoeira, Mundo Capoeira, Vivendo e Aprendendo, Liberdade do Negro, Barro Vermelho, Corpo e Movimento, Porto da Barra, Guerreiros da Bahia, Solares, Pé Pro Ar, Nação Capoeira, Filhos de Oxalá, Mandela, Ganga Zumba, Centro de Cultura da Capoeira Tradicional Bahiana (Mestre Bola Sete), Grupo Cultural de Capoeira Angola Moçambique (Neco) e mestre Flecha. Além das participações especiais dos artistas Lucas Di Fiori (Olodum), Dado Brazawilly (Ex- Ara Ketu), Paulinho Feijão (Ex- Ilê Aiyê) e dos mestres de capoeira Já Morreu e Pelé da Bomba.

O Bloco contou com o apoio cultural do Governo do Estado da Bahia, Secretaria de Cultura e Secretaria do Turismo, Bahiatursa, Ministério do Turismo, Prefeitura Municipal de Salvador, Emtursa, Prefeitura Municipal de Lauro de Freitas, Pólo de Capoeira de Lauro de Freitas, Instituto Sol e Sol Embalagem, Guia Salvador Eventos, Revista Carnafolia, Jornal O Capoeira, Forte da Capoeira, Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Edson da União, Olívia Santana, Bahia Gás, Zoom Imagens, Maria Comunicação, União da Capoeira de Itapoã e Federação de Capoeira da Bahia (Fecaba).

Contatos: 71- 81269333 – 32569806 site

domingo

Salvador, a Capital Afro do Brasil

Por Géssica PedrosoA história da cidade de Salvador inicia-se 48 anos antes de sua fundação oficial com a descoberta da Baía de Todos os Santos, em 1501. A maior baía brasileira, batizada com o nome “Todos os Santos” por ter sido oficialmente reconhecida por uma expedição Comandada por Gaspar de Lemos, acompanhado por Américo Vespúcio, em 1º de Novembro de 1501, reunia qualidades portuárias e de localização, o que a tornou referência para os navegadores, passando a ser um dos pontos mais conhecidos e visitados do Novo Mundo.
Salvador já nasceu cidade, capital do Brasil, sem nunca ter sido província, condição que perdeu em 1763, quando a capital do Brasil passou a ser a cidade do Rio de Janeiro. Em meados do século 16, serviu como maior porto de entrada de escravos africanos no Brasil. A cidade herdou costumes e tradições da África e é hoje um exemplo interessante da integração de culturas distintas, originando a mística cultura afro-brasileira.
Salvador é a terceira cidade mais populosa do Brasil (2.892.625 habitantes) pela estimativa de 2007, depois de São Paulo e Rio de Janeiro. A Região Metropolitana, popularmente conhecida como “Grande Salvador”, é constituída pelos municípios de Camaçari, Candeias, Catu, Dias d’Ávila, Itaparica, Lauro de Freitas, Madre de Deus, Mata de São João, Pojuca, Salvador, São Francisco do Conde, Simões Filho e Vera Cruz, tem população estimada em 3,7 milhões de habitantes sendo assim a maior metrópole do Nordeste e a 7ª cidade mais populosa da América Latina logo após Cidade do México, São Paulo, Lima, Bogotá, Rio de Janeiro e Santiago. A superfície do município de Salvador é de 706,8 km². Centro econômico do estado, é porto exportador, centro industrial, administrativo e turístico, tem diversas universidades e uma base naval.
A parte mais antiga da cidade é dividida em Cidade Alta e Cidade Baixa, separadas pelo Elevador Lacerda, onde fica o Centro Histórico, e neste o Pelourinho. A Capital baiana projeta-se na Baía de Todos os Santos, assumindo um formato triangular, cujo vértice é o Farol da Barra. Dali partem duas avenidas principais: a Avenida Sete e a Oceânica. A primeira, leva para a parte antiga da Capital, chamada comumente de “Cidade”, ao passo que a segunda leva para a série de praias que se estendem da urbe até o litoral norte, passando pelos bairros mais novos e estruturados de Salvador, como Rio Vermelho, Pituba, Itaigara, Caminho das Árvores, Stiep, Costa Azul, entre outros.
Salvador é uma bela cidade, com muita história e riquíssimo acerco cultural e arquitetônico. Conhecer todas as suas igrejas, praças e monumentos é tarefa que requer bastante tempo, sem falar nas belas praias que são destino obrigatório de qualquer turista.
Entre os principais pontos de visitação podemos citar Catedral Basílica, Elevador Lacerda, Farol da Barra, Forte de São Marcelo, Lagoa do Abaeté, Memorial Irmã Dulce, Mercado Modelo, Museu da Cidade, Parque da Cidade, Parque Pituaçú, Pelourinho, Praça Castro Alves, Praça da Sé, Praia de Itapuã, Praias do Flamengo, entre centenas de outras atrações na cidade.
Além das igrejas, monumentos e praias, Salvador é a capital da maior festa popular do mundo, que o Carnaval da Bahia, que chega a atrair mais de 2,5 milhões de pessoas, que seguem os blocos em um dos três principais circuitos: Dodô (Barra-Ondina), Osmar (Barra Avenida-Campo Grande) e Batatinha (Centro Histórico). Quer seja atrás dos trios, nos cordões, ou na multidão pipocando pelas ruas ou nos confortáveis camarotes, animação é o que nunca falta no Carnaval de Salvador. Os numerosos foliões que comparecem todo ano na cidade comprovam isso.

Samba de roda, patrimônio da humanidade


Por Gilberto Gil
Ministro da Cultura
Por considerar que, em sua diversidade, as manifestações culturais imateriais ou impalpáveis são patrimônio importante – e mesmo fundamental – da humanidade, a Unesco aprovou a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.O Brasil, que consagrou o patrimônio imaterial em sua legislação em 2000, tem agora a possibilidade de contribuir para o enriquecimento do patrimônio imaterial da humanidade. O título de Obra-prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, conferido pela Unesco a manifestações culturais de diversos países, já tem dois representantes brasileiros: a pintura corporal e arte gráfica dos índios Wajãpi, desde 2003, e o Samba de Roda no Recôncavo Baiano, aprovado em novembro de 2005, durante a Terceira Proclamação.O Samba de Roda do Recôncavo Baiano merece o estatuto desse reconhecimento. Ele é um dos fundamentos de uma grande manifestação muito mais complexa, que é o samba brasileiro em seu todo. E, mais que isso, é a fonte, a matriz preservada de onde emana toda a grandeza dessa expressão musical.Sou um músico brasileiro que tem o Samba de Roda em sua formação básica. Até hoje, mesmo depois de meu contato e de minha natural contaminação com outros tipos de samba – como o carioca, o eletrificado e cosmopolita de Salvador e o de todo o Brasil – o impulso musical, estético de minha relação com o samba vem, basicamente, da vertente da Bahia, que é a mais natural, a mais próxima, a mais epidérmica na minha vida.Essa proximidade me mostra claramente que o Samba de Roda, que tem vida em Cachoeira, Santo Amaro, São Francisco do Conde, em todo o Recôncavo, continua fulgurando. Mas, por estar ligado a comunidades economicamente frágeis, acaba se ressentindo e precisa ser apoiado. Ao fortalecê-lo, estaremos alimentando a raiz e beneficiando a árvore toda e todos os galhos que saíram do Samba de Roda.

quinta-feira

Fleches do Carnaval 2008

Por Adenilton Cerqueira
UMA BICICLETA com duas caixas acústicas foi tudo o que o Bloco dos Primos precisou para se reunir e desfilar numa algazarra criativa. Nas costas de cada componente, a estampa de uma função específica na agremiação: cordeiro, cordeiro estagiário, peru dos primos, segurança, médico e serviços gerais. Todos em volta de um carrinho de supermercado com um isopor em cima e uma placa: OPEN BAR.


NO EMBALO de um minitrio pouco maior que uma bicicleta, 20 marmanjos trajados de Capitão Nascimento desfilaram na avenida, na tarde de sábado, cheios de amor pra dar. Com boinas militares, bermudas camufladas e um repertório de doer, o Trepa de Elite, cheio de autoconfiança, tentou arregimentar algumas soldadas de gargalhadas mais afoitas. “Se não agüentar, pede pra sair!”.


NUMA ESQUINA do Campo Grande, a jovem Bruna Abade, de Guanambi, encontrou o seu jeitinho bacana de garantir uns trocados. Sentada num banquinho de plástico, com estojo de maquilagem à base de guache, ela ofereceu o serviço de “pinturinha” facial aos foliões mirins. Numa folha de ofício, o cardápio com 12 opções e os preços: Entre R$2 e R$3. Nada mal.


A CADA ano parece que as coisas pioram em termos de poluição visual. Fotógrafos e cinegrafistas que o digam, na tentativa de produzir imagens que fujam das cataporas de patrocínio salpicadas entre os foliões. Este ano, além da multiplicação dos balões, inventaram uns cacetetes infláveis e os distribuíram aos milhares. É o preço da superexposição da festa.


NA LATERAL do circuito oficial (Campo Grande), as árvores foram feitas de camarote. Os pontos de poda viraram assentos e os galhos mais proeminentes foram confundidos com trampolins. É que na passagem de Ivete Sangalo com o bloco Coruja, no domingo, um dos espectadores herbais quase se atirou para cima do trio.


A elegância sutil do Cortejo Afro/Especial Carnaval 2008


Criado e comandado pelo artista plástico e designer Alberto Pita no final da década passada, o Cortejo Afro conseguiu um lugar entre a elite dos blocos afros, destacando-se sobretudo pelo apuro estético. Não por acaso, adota o slogan “elegantemente sofisticado”. A cada ano consegue – mesmo com muitas queixas de falta de patrocinadores – levar às ruas um desfile bonito, bem pensado e estruturado. Este ano, quem esperava o desfile em tons azul, branco e prata, marcas do Cortejo, se surpreendeu com sua passagem nos circuitos Osmar (sexta) e Dodô (domingo e segunda).
Em seu sexto Carnaval, o bloco apostou numa cartela bem mais variada de cores, com destaque para o vermelho e os tons terrosos. Tudo para levar às ruas com propriedade o tema Nações indígenas, num resgate de vários elementos da tradição indígena e dos antigos blocos de índio do Carnaval baiano. Muita pena, cocares e figurinos diferenciados para os cantores, diretoria, associados, ala de frente e até para os cordeiros, que receberam uma espécie de capa. Nas fantasias, um trecho da música Um índio, de Caetano Veloso.
O trio elétrico do Cortejo, um dos mais bonitos do Carnaval, foi inteiramente decorado, recebendo nas laterais representações de totens indígenas. “Queremos homenagear as várias nações e chamar atenção para casos como o do índio Galdino, que foi queimado vivo. Também estamos homenageando o Apaxes, o Comanches e os antigos blocos baianos, que por sua vez faziam referência aos índios americanos”, destacou Mônica Pitta, vice-presidente do Cortejo. Este ano, continuou, contaram com cerca de 2,5 mil associados. A ala de frente trouxe um grupo de senhoras do Mais Social, todas com mais de 55 anos.
Um dos destaques do desfile foi a bateria turbinada, com 230 homens e mulheres, 80 deles integrantes do grupo percussivo parisiense Batalá. A presença de grande número de estrangeiros – e de pessoas brancas – chama atenção no Cortejo, principalmente se comparado a outros blocos afros da cidade. Se os mais conservadores vêem o fato como um problema, para os associados esta é uma qualidade. “Acho que o Cortejo traz uma coisa nova. É sério e consegue interagir com todas as tribos”, destacou o cabeleireiro Elder Andrade, que acompanha o bloco desde o começo.
Também admirador do Cortejo, o secretário de cultura Márcio Meirelles, que desfilou no bloco na sexta-feira e no dia seguinte esteve na saída do Ilê, estabeleceu um paralelo entre os dois: “O Ilê é mais raiz, é a base. O Cortejo é a outra ponta. De alguma maneira elas se encontram e dialogam”, comparou. No desfile de domingo, o bloco foi brindado com a presença da modelo inglesa Naomi Campbell.
Se o Cortejo Afro já tem uma identidade visual incontestável, ainda lhe falta uma presença musical mais efetiva na folia. A ala de puxadores, que já contou com a cantora Mariene de Castro, Portela e Aloísio Menezes, é atualmente formada por Walmir de Brito e Marquinhos Marques. Especialmente para o Carnaval, contou com Márcia Short e Gerônimo, além do músico americano Arto Lindsay. “Participei dos ensaios, mas do Carnaval é a primeira vez”, afirmou Márcia Short. Com uma longa trajetória na festa, ela disse que o convite lhe proporcionou um antigo desejo, o de puxar um bloco afro, apenas voz e percussão. “Estou realizando um sonho. Vou colocar um pouco do Cortejo na minha história e um pouco da minha história no Cortejo”, prometeu.
No desfile de segunda-feira, no circuito Dodô, o carro alegórico do Cortejo Afro sofreu um princípio de incêndio, provocado pela alta temperatura de um refletor. O acidente, registrado pela Defesa Civil de Salvador (Codesal), foi controlado com o desligamento do equipamento e a farra continuou.

terça-feira

Ordem de desfile dos blocos causa polêmica

Por Adenilton Cerqueira
Há pelo menos quatorze edições do Carnaval de Salvador, a ordem dos blocos que desfilam nos principais circuitos da folia permanece a mesma. Os blocos de corda puxados pelas "estrelas da axé music" iniciam a festa no início da tarde, conquistam holofotes e arrastam multidões. Para os artistas independentes, blocos afro, afoxés, de índios e percussão só resta seguir o rastro deixado pelas estrelas e torcer para, em plena madrugada, encontrar foliões com boa resistência física e disposição.
No Carnaval 2008 não será diferente. Uma matéria publicada no site oficial do Carnaval de Salvador destaca que esse ano os blocos afro e afoxés desfilam durante o dia e, por isso, ganham mais visibilidade. O que é negado pela própria programação oficial divulgada no mesmo site e confirmado por representantes das entidades.
A ordem e duração de cada desfile foram definidas pelo Conselho Municipal do Carnaval em setembro do ano passado, durante assembléias com seus membros. Segundo o presidente do órgão, Reginaldo Santos, o critério é claro: os blocos mais antigos desfilam primeiro, em seguida vêm os blocos mais novos. Acontece que nesse critério só estão inclusos os blocos de trio. Afoxés, afro e percurssivos só começam a ocupar a avenida após às 19h (caso não ocorram atrasos). A única exceção são os Filhos de Gandhy, que desfilam domingo, segunda e terça-feira às 15h.
Para o presidente do Olodum, João Jorge Rodrigues, "a fila é completamente anti-democrática. É um verdadeiro matadouro da galinha dos ovos de ouro". A opinião é compartilhada pelo coordenador geral do Fórum de Entidades Negras da Bahia e diretor do bloco afro Os Negões, Walmir França. "É um absurdo repetir esse modelo, onde os melhores horários são sempre disponibilizados para os mesmos blocos, porque os patrocinadores ganham muito dinheiro com eles", reivindica França e provoca: "Falta coragem das gestões municipais para mexer nessa ordem. É muito dinheiro envolvido".
O presidente da Associação de Blocos de Trios, Fernando Boulhosa, diz que "as reclamações dos blocos afro e afoxés não têm fundamento nenhum". Segundo ele, o Carnaval da Bahia podia ser fantástico antigamente, mas era completamente desorganizado e se continuasse do mesmo jeito, a tendência era acabar. "Fomos nós, os representantes do blocos de trio, que de forma pioneira colocamos ordem no desfile, quando criamos a fila. O critério é claro e democrático: os mais antigos ocupam os melhores horários, acompanhados pelos outros trios mais novos", explica Boulhosa.
Só em 2009 - Mesmo assumindo que é preciso discutir os critérios de escolha da ordem do desfile e garantindo que isso será feito para a próxima edição da festa, em 2009, Reginaldo ressalta que os blocos afro e afoxés não foram inclusos no critério de antiguidade quando a fila foi criada, "porque na época não tinham organização e estrutura adequadas para disputar o espaço". Reginaldo diz ainda que o horário da noite é reservado a esses blocos, porque ¿é impossível para os afro e afoxés desfilarem durante o dia, vai de encontro a práticas religiosas e a própria indumentária dos blocos, que não suportaria o sol de meio dia".
João Jorge, do Olodum, responde: "É mentira. Isso é uma grande distorção". O presidente da Associação dos Afoxés da Bahia, Edvaldo dos Santos, conhecido há 30 carnavais como Nadinho do Congo, é ainda mais incisivo: ¿É impressionante o preconceito e o desprezo com que a organização do Carnaval trata os blocos afro e afoxés".
Segundo Nadinho do Congo, cerca de 18 afoxés desfilam esse ano no Circuito Osmar, número, que seria muito maior se houvesse respeito e investimento nesses blocos "que expressam a verdadeira cultura baiana e ao longo do ano desenvolve projetos sociais de extrema relevância para a sociedade baiana". O presidente da Emtursa, Misael Tavares, não se posicionou, alegando que "o assunto diz respeito apenas ao Conselho do Carnaval".
Ética - No final de 2006 foi criado pelo Conselho Municipal do Carnaval, o Código de Ética e de Infrações do Carnaval, que estabelece normas de conduta de todos os blocos, trios e entidades, com detalhamento dos procedimentos, horários dos desfiles e as penalidades para quem descumprir as normas. Apesar de não ter sido colocado em prática em 2007, Reginaldo Santos garante que em 2008 ele deverá ser seguido a risca.
Por isso, o presidente acredita que os blocos afro, afoxés, entre outros não serão prejudicados caso os horários de desfile sejam rigorosamente cumpridos pelos blocos de trio. ¿Se eles cumprirem o que foi estipulado, os blocos afro e afoxés não desfilarão de madrugada".
Os representantes do Olodum e da Associação dos Afoxés da Bahia, João Jorge e Nadinho do Congo, respectivamente, alegam que a necessidade de se modificar a ordem do desfile para oferecer visibilidade a todas as entidades já foi anunciada em assembléias do Conselho em anos anteriores. "O Ministério Público tem que se posicionar. Eles conhecem a situação. Isso não é nenhuma novidade", destaca João Jorge.
O MP é o órgão responsável por fiscalizar o cumprimento das determinações previstas no Código. As promotoras Heliete Vianna e Rita Tourinho afirmam que a ordem de desfile dos blocos foram debatidas em audiências promovidas pela própria Emtursa, em parceria com o MP em novembro de 2007. "Naquele momento, já não havia mais tempo hábil para se modificar a programação. Mas, para 2009 vamos, sim, recomendar ao órgão responsável que repense essa fila de blocos", sinaliza Rita Tourinho.

Bloco afro lembra o fim da escravidão

Na madrugada deste domingo, 3, um bloco afro lembrou os 120 anos da assinatura da Lei Áurea, que pôs fim à escravidão no Brasil. Em sua passagem pelo Campo Grande, o bloco Malê Debalê desfilou com 50 percursionistas, uma grande roda de capoeiras e diversas dançarinas. O tema do bloco este ano foi "Áurea, 120 anos. E nós?", em uma alusão à data em que a princesa Isabel assinou a lei que acabou oficialmente com a escravidão no país (13 de maio de 1888).

segunda-feira

Naomi Campbell desfila no Cortejo Afro


A top model Naomi Campbell desfilou no Cortejo Afro, no circuito Barra-Ondina, na noite deste domingo (3). O bloco fez homenagem às tribos indígenas.

Naomi tem se tornado figurinha fácil no carnaval de Salvador. Em nova visita ao camarote da rainha do axé neste domingo, ela não resistiu e desceu para a avenida Oceânica e acompanhar o desfile do Cortejo Afro.

Na noite de sábado (2), ela saiu no Ilê Aiyê e visitou o camarote de Daniela Mercury. A modelo estava acompanhada do publicitário Nizan Guanaes.
Mãe Santinha, que estava no alto do trio elétrico e foi cumprimentada pela modelo, disse que a homenagem aos índios do Brasil é uma justiça com o povo. “Eles representam a origem do país. Isso é a união dos povos e estou muito feliz por isso”, afirmou.


E ainda visitou camarote de Daniela Mercury

A top model Naomi Campbel visitou o camarote de Daniela Mercury na noite deste sábado (2) e agitou a folia entre os convidados da rainha do axé. Ela foi ciceroneada pelo publicitário Nizan Guanaes, que também levou a modelo para sair no Ilê Aiyê, em Salvador. Naomi viu a tradicional saída do Ilê na ladeira do Curuzu, na Liberdade, um dos bairros de maior população negra do país, cerca de 600 mil habitantes. Ela esteve com a ialorixá mãe Hilda Jitolun, de 85 anos, e depois seguiu com o bloco para o Campo Grande. Segundo informações da Polícia Militar, cerca de 3,2 mil pessoas acompanharam a saída do Ilê. A modelo internacional também foi acompanhada pela Deusa de Ébano Adriana Santos Silva, de 24 anos, que representa o Ilê Aiyê até o próximo carnaval.