sexta-feira

Entrevista com Mariene de Castro

‘Canto samba desde que me entendo por gente’

Mariene Bezerra de Castro começou sua vida artística aos cinco anos de idade. Queria ser bailarina, mas a vontade de aprender a tocar violão a levou a uma escola de música onde seu talento como cantora, depois transformado em vocação, foi descoberto. Era ainda uma menina começou a cantar profissionalmente. Mas só começou a ser notada por muita gente depois que gravou o álbum "Abre caminho", vencedor do Prêmio TIM de música na categoria regional em 2005. Baiana da gema, adorada pela crítica, ela já foi destaque nas folhas culturais dos principais jornais do País, embora ainda seja uma quase-desconhecida entre o público de sua terra. Nesta entrevista para a revista afro bahia, reafirma sua profissão de fé no samba de roda, enumera razões que julga explicarem seu relativo anonimato e não perdoa a imprensa preguiçosa: "Jornalista tem que ir ao show. Não pode fazer matéria em cima de release".

Vamos começar com umas perguntas protocolares. Onde você nasceu e como teve contanto com a música?
Mariene de Castro: Eu nasci em Salvador, mais precisamente no hospital Santa Isabel. Mas digo que sou nata da Chapada Diamantina. Minha avó morava em Andaraí e eu andava sempre lá nas férias. Tive um convívio muito grande com a cultura do interior, por causa de minhas férias. Esse convívio foi fundamental para minha vida artística. Desde pequena, na verdade, eu queria ser bailarina. Estudei balé desde os cinco anos de idade, era a época em que o Teatro Castro Alves tinha balé. Mas na minha casa todo mundo cantava ou tocava algum instrumento. Tenho um tio músico, minha avó era professora e tocava acordeom e piano. Eu queria aprender a tocar violão e pedi a minha mãe que me levasse a uma escola de música. Tinha uma na Mouraria, perto de onde eu morava, na [avenida] Joana Angélica. Morei minha vida toda lá. Aí no dia em que eu cheguei na escola de música, estava tendo uma aula de canto. Eu já cantava, mas em casa, não tinha me descoberto como cantora. Eu tinha uns 12 anos e tinha acabado de passar no preparatório do Balé Jovem do TCA. Eu era muito voltada para isso, mas aí veio a coisa da música e, muito por necessidade de sobrevivência, eu vi que poderia ajudar no orçamento de casa trabalhando com música também. Nessa escola da Mouraria, o professor de canto pediu que eu fizesse uma aula sem compromisso. Ele ficou impressionado com o timbre da minha voz e disse para minha mãe que ela tinha um tesouro em casa e não sabia. Então ele indicou que eu fizesse aula de canto, dizendo que eu tinha um timbre muito raro, um contralto. Minha mãe não tinha dinheiro para pagar os dois cursos, de música e de canto, e o professor acabou nos convencendo que eu fizesse canto. Foi aí que eu comecei a virar cantora. Vieram os convites para fazer apresentações, backing vocal, para participar de grupos... Nessa época passei pela axé music, cantei em algumas bandas como a Timbalada, fiz backing para [Carlinhos] Brown e Márcia Freire. Até que um amigo de minha mãe, Vicente Sarno, conseguiu uma data para mim no projeto Pelourinho Dia e Noite. Foi o meu primeiro show, em dezembro de 1996, eu acho. Paralelo a isso eu estava fazendo a turnê de Brown, do "Alfagamabetizado". Mas no dia do show, dois produtores franceses apareceram e disseram que estavam atrás de uma artista emergente.

Então no seu primeiro show você já lançou sua carreira internacional?
Mariene de Castro: É, isso foi quase um problema (risos). Na França eu fui recebida como artista internacional. Nunca imaginei ser tratada como fui. Fiquei nos melhores hotéis, tive uma equipe de luz e de som que me acompanhou em toda a turnê, uma estrutura maravilhosa, matérias todos os dias em jornal... Em muitas cidades, tinha uma matéria no dia anterior ao show e a crítica no dia seguinte. Viajei durante 21 dias e, durante esse tempo, teve essa movimentação forte da mídia. Me compararam até a Edith Piaf. E eu não fiz um show para estrangeiro ver, com bossa nova e canções que eles reconhecessem. Já cantava as coisas que eu gosto, que me emocionam. Eu nunca tive fascinação por viajar, morar fora... Quando eu dançava, tive várias oportunidades de fazer isso, mas sempre fui muito enraizada, sempre gostei muito da minha terra. Quando fui para a França, algumas pessoas ficaram receosas porque eu não conhecia ninguém, não falava a língua, não tinha dinheiro. Não sabia o que podia estar lá me esperando. Mas, graças a Deus, foi tudo bem. Deus pegou na minha mão, me levou e me trouxe de volta. O problema a que eu me referi é que, quando voltei ao Brasil, com uma pasta de matérias e de elogios, cheguei na imprensa aqui e não houve interesse nenhum de saber dessa artista baiana que teve uma grande repercussão na mídia francesa. Só um ano depois, um dos jornais aqui falou: "Baiana lança carreira na França". De lá para cá, fiz muitos projetos e investi muito em minha carreira. Sempre tive muito apoio dos músicos que trabalharam comigo e que me acompanham até hoje. A gente teve um trabalho de formação de platéia. Eu ia colar cartaz, fazer panfletagem na rua, entregar release pessoalmente em jornal. Eu fiz um trabalho de formiguinha mesmo.

Se contarmos do seu primeiro show, então, já são mais de dez anos de carreira. Ainda assim, você continua sendo taxada como uma estrela em ascensão. O título a incomoda?
Mariene de Castro: Não vejo isso de forma pejorativa, não me incomoda. Acho que quem fala isso enxerga dessa forma. Porque são pessoas que estão me conhecendo agora, começaram a ouvir falar agora. A própria mídia mesmo não conhecia o meu trabalho. Eu sempre falo quando dou uma entrevista: "Olha, vá para o show". Porque é bacana o jornalista conhecer o trabalho. São vocês que vão falar bem, ou mal, mas é importante que vejam. Escrever só em cima do que fala o release ou em cima de uma entrevista? Eu gosto que o jornalista veja. Alguns que escreveram sobre mim na mídia nacional, como o Lauro Lisboa [de O Estado de S. Paulo], assistiram ao show. Eu fui para o Itaú Cultural, tinha um jornalista lá e me viu. Cantei no Paço Imperial, no Rio, tinha um jornalista lá e me viu. Não foi nenhum um trabalho de assessoria de imprensa que aconteceu, foi uma coisa natural. Até hoje um eu não fiz um trabalho de "estratégia" de carreira, em que faço isso pensando naquilo. Tem gente que me pergunta: "Você canta samba porque é moda agora?" Não, minha gente, eu canto samba de roda desde que me entendo por gente. Gosto de samba desde cinco anos de idade, quando ganhei meu primeiro disco de Beth Carvalho do pai de minha irmã. Ele gostava muito de mim, me chamava de "coisinha do pai", e na época Beth gravou "Coisinha do pai". Eu sou assim, me visto de baiana, boto pulseira. Agora dizer que é porque virou tendência, virou moda? Que bom que virou moda e as pessoas estão se antenando que nossas raízes são um barato, que é bom a gente se orgulhar do que tem. É saber bater palma no samba de roda, dançar ciranda, valorizar os artistas da terra, artistas de rua, que muita gente pensa que são só uns mendigos da arte.

Você tem feito muitos shows e, mais do que nunca, aparecido em programas de tevê e estampado as primeiras páginas dos cadernos culturais da imprensa local. Uma grande parcela do público já ouviu falar de você, mas pouca gente ouviu você. É um problema de alcance limitado da mídia local, de planejamento de carreira, ou simplesmente porque você ainda não apareceu na Globo?
Mariene de Castro: Quando se lança um artista nacionalmente, se faz um planejamento de carreira. Tudo é estudado. Uma gravadora gasta X para divulgar em rádio, tevê, jornal, e dá visibilidade ao artista. No meu caso isso não aconteceu por uma questão de falta de condição mesmo. Viabilizar uma carreira de música popular na Bahia é quase um milagre. O "Abre caminho" foi um disco que ganhou um prêmio e teve tiragem de mil e quinhentas cópias. Nem mil cópias foram para a loja porque, no primeiro dia do show que fiz no TCA, foram vendidos seiscentos, oitocentos discos. Theodomiro [Queiroz, ex-diretor do TCA] nunca viu isso. Foi polícia, gente do lado de dentro e do lado de fora, cadeira extra... E isso para uma cantora que não toca em rádio e não aparece na mídia nacional. O que faz o povo conhecer, querer ver, cantar a música? É o artista ter visibilidade. O que aconteceu comigo foi resultado desses dez anos de trabalho de formiguinha. Infelizmente vivemos numa cultura de jabá, que massifica a música. Porque isso é matemática, não tem como você juntar um mais um e não dar dois. Vai dar dois, é lógico. Se você pega um artista, tem um milhão de reais para investir numa carreira, pagar uma música para tocar nas rádios das grandes capitais e fazer cinco programas na televisão nacional, é lógico que esse artista vai ter uma repercussão muito diferente de outro que aparece na TVE, toca na Rádio Educadora e faz show uma vez a cada seis meses.

Vovô do Ilê Aiyê



“ Viajou pelos quatros cantos do planeta entoando a sua canção, após 30 anos realizou o seu sonho e de sua Nação “ A Senzala do Barro Preto”. Hoje o mesmo bloco que a trinta e três anos atrás foi taxado pela sociedade e imprensa de “ bloco racista” é referencia em ações educativas para valorização, elevação da auto estima e a inclusão do negro na sociedade brasileira.”
Associação Cultural Bloco Carnavalesco Ilê Aiyê foi criada em 1974 por Antonio Carlos dos Santos conhecido mundialmente como Vovô do Ilê (atual diretor presidente) e Apolinário de Jesus ( in memorum), inspirado nos movimentos negros americano que surgiu como instrumento de valorização da cultura negra, foi responsável pela evolução do carnaval baiano através do ecoar dos seus tambores, suas vozes fortes e coloridos das suas fantasias. Hoje é referencia em ações educativas promovendo o desenvolvimento humano, social e sustentável através da unidade pela diversidade em do projetos sócio-educativos como: Escola e Mãe Hilda – ensino fundamental, banda Erê de percussão, escola de dança – afro e cursos profissionalizantes e deixando claro que “esta luta desde o inicio foi pela igualdade racial”.

“ Hoje, sabemos com segurança que o nosso carro chefe é a educação aprendemos que só através dela que poderemos conseguir diminuir a desigualdade social em nossa sociedade”
Vovô do Ilê Aiyê

quarta-feira

A BAHIA PERDE LINO DE ALMEIDA

O sociólogo José Lino Alves de Almeida. O Lino de Almeida morreu , aos 48 anos, vítima de um câncer de intestino. A morte representou uma perda significativa não só para familiares e amigos, mas também para o Movimento Negro Unificado (MNU), fundado na década de 70, e tantas outras instituições para as quais Lino contribuiu. Ele foi também radialista e ajudou a divulgar o reggae e sua ideologia nas rádios de Salvador. Por isso, durante a cerimônia, o som do reggae, emitido de uma Brasília antiga, que estava na entrada do cemitério, deixou o clima mais leve para os que prestigiaram o intelectual.De origem pobre e nascido no bairro da Liberdade, Lino de Almeida foi um dos maiores defensores do reggae na Bahia. Ele tinha estudos sobre a música e colecionava verdadeiras obras de arte desse estilo musical. "Nos programas de rádio, ele aproveitava para denunciar a opressão contra o povo negro, justamente o que é defendido pelo reggae", explica Albino Apolinário, coordenador da Praça do Reggae, no Pelourinho. Albino e Lino de Almeida foram os fundadores do Bar do Reggae, em 1978, que deu origem à praça.Um dos fundadores do MNU na década de 70, Lino criou o Legião Rastafari em 1981, um dos maiores movimentos de resistência negra. Para um dos militantes do MNU, Milson dos Santos, muitas das políticas voltadas para negros que existem hoje são resultado da luta travada pelo movimento. "As políticas de cotas, as bolsas, a introdução de estudos afros nas escolas tiveram como base a luta iniciada por Lino", defende.Para outro fundador do MNU, Zal do Carmo, Lino foi um dos pioneiros na militância pelo reggae nas rádios. De 1980 a 2002, o sociólogo foi locutor em programas nas rádios Itaparica, Salvador FM, Globo FM, Bandeirantes e Tropical. "Além de culto, ele era militante. A Bahia perde um porta-voz da cultura negra no Brasil e fora daqui", frisou. Lino ajudou a divulgar os artistas jamaicanos na Bahia, sendo que, em 1993, foi o primeiro a trazer Jimmy Cliff ao estado. Ou seja, ele fazia uma espécie de intercâmbio entre a Bahia e a Jamaica, além de Estados Unidos e África.Sofreu perseguições políticas com a rádio, pois a elite da época começou a se incomodar com seus discursos "subversivos". E muitas vezes foi tirado do ar por causa disso. Foi idealizador também de um documentário e um DVD sobre os Filhos de Gandhy. "Para nós foi uma perda muito grande, assim como para todos os militantes do movimento negro. Ele também deu sua contribuição para o Ilê Aiyê, através da música, do reggae", frisou o presidente do Ilê Aiyê, Antonio Carlos dos Santos, o Vovô.Para Raycompany, radialista divulgador do reggae na Bahia, Lino divulgava o reagge sempre com maestria, daí tê-lo convidado para fazer programas no rádio. "Ele tinha um programa Rasta Reggae, de 1987 até 2000, nas rádios Itaparica e Tropical, que era sucesso absoluto no rádio", destaca. Lino também viajava e trazia de fora CDs para tocar nas rádios, já que, na época, era difícil encontrar CDs de reggae para compra. Lino foi ainda membro da FDA pela Diáspora Africana, uma associação de Washington (EUA) que defende a democracia africana e que era representada por ele no Brasil.O sociólogo, membro do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, deixa três filhos legítimos e dois filhos de sua atual esposa, Rita Honotório. "Ele foi um guerreiro mesmo na doença, ele contrariou todas as estatísticas, todas as previsões médicas. E nunca teve medo da doença", diz a esposa. Em 2003, já doente, Lino ganhou o prêmio Petrobras Cultural com um DVD sobre os Filhos de Gandhy. Na TVE, ele dirigiu a série Microdramas. Foi ainda palestrante em universidades internacionais, como Harvard."Ele morreu jovem, mas deixa um legado extraordinário, para seus filhos e netos", disse Clarindo Silva, coordenador do projeto cultural Cantina da Lua. Já outro precursor do Movimento Negro na Bahia, Gilberto Leal, vê a morte como a passagem de Lino para a ancestralidade. "Ele retomou o movimento negro após a ditadura. Esta é a passagem de um ativista para uma outra dimensão. O trabalho dele ainda não terminou", concluiu.

terça-feira

BLOCOS AFRO E DE AFOXÉ RESGATAM RAÍZES AFRICANAS EM SALVADOR


Blocos de afoxé, ligados ao candomblé, e afros exaltam as raízes da cultura africana e levam para a avenida um espetáculo rítmico e plástico. A maioria dos blocos cobra do folião uma taxa pela fantasia, que vai de R$ 10 a R$ 400, mas é possível acompanhar de graça. Confira a lista de alguns blocos afro e de afoxé.

Blocos de afoxé:

Luaê Circuito: Batatinha (Centro Histórico)Dias: Domingo e terça-feiraBanda: Luaê Não cobra taxa Informações: (71) 9159 2034


Dança Bahia Circuito: Batatinha (Centro Histórico)Dias: Terça-feira e domingo Bandas: A Baianada (domingo) e Dança Bahia (terça)Preço: Taxa de R$ 10 Informações: (71) 3243 9960


Filhas de Olorum Circuito: Batatinha (Centro Histórico)Dias: Domingo e terça-feira Bandas: Marta Fé e Olorum Banda Taxa: R$ 50 (não-sócios) e R$ 30 (sócios) Endereço da sede: Ladeira do Carmo, número 12. Edifício Orion Informações: (71) 8714 8713


Os Sacerdotes Circuito: Batatinha (Centro Histórico) Dia: Quinta-feiraBanda: Os Sacerdotes Taxa: Não-sócios pagam R$ 50. Levar na sede do bloco duas fotos 3x4, cópia do RG e CPF para fazer a carteirinha do bloco. Sócios pagam R$ 30. Informações: (71) 3321 1548


Filhas de Oxum Circuito: Batatinha (Centro Histórico)Dias: Domingo e terça-feiraBandas: Banda Oxum e Samba CloseTaxa: Não-sócios pagam R$ 70. Levar na sede do bloco uma cópia da identidade, do CPF e duas fotos 3x4 para fazer carteirinha do bloco. Para sócios a taxa é de R$ 50. Informações: (71) 3247 4901


Filhos do Korin Efan Circuito: Campo Grande/Avenida e Batatinha (Centro Histórico)Dias: Sábado (Campo Grande/Avenida e Centro Histórico) e segunda-feira (Centro Histórico)Banda: Filhos do Korin EfanTaxa: R$ 120 Informações: (71) 3242 5203, (71) 3321 1023, (71) 8165 5673


Filhos de Gandhy Circuito: Campo Grande/Avenida e Barra/OndinaDias: Domingo(Campo Grande/Avenida), segunda-feira (Barra/Ondina) e terça-feira (Campo Grande/Avenida). Concentração a partir das 14h30.Preços: Sócios pagam R$ 240. Não-sócios pagam R$ 280. Levar na sede do bloco uma cópia da carteira de identidade, CPF, título de eleitor e uma foto 3x4 para fazer a carteirinha do bloco.Informações: (71) 3321 7073


Blocos Afro
Filhos de Jhá Circuito: Batatinha (Centro Histórico)Dias: Sábado, segunda-feira e terça-feiraBanda: Filhos de JháNão paga nada para participar do blocoInformações: (71) 9931 6418


Okambi Circuito: Batatinha (Centro Histórico) e Campo Grande/AvenidaDias: Sábado (Batatinha), segunda-feira (Campo Grande/Avenida) e terça-feira (Batatinha)Bandas: Okambi e Jorjão bafafé (na terça-feira)Não paga nada para fazer parte do bloco. Para participar basta entrar em contato com os organizadores.Informações: (71) 3492 5012


Didá Circuito: Campo Grande/AvenidaDias: Sábado e segunda-feiraBanda: DidáA partir do dia 20/01 estarão disponíveis informações sobre como participar do blocoInformações: (71) 3321 2042


Cortejo Afro Circuito: Campo Grande/Avenida e Barra/OndinaDias: Sexta-feira (Campo Grande/Avenida), Domingo (Barra/Ondina) e segunda-feira (Barra/Ondina)Bandas: Arto Lindsay e GerônimoTaxa: R$ 120Informações: (71) 9134 2751


Muzenza Circuito: Campo Grande/AvenidaDias: Sábado, segunda-feira e terça-feiraBanda: Muzenza Taxa: R$ 150Informações: (71) 3256 1620


Malê Debalê Circuito: Campo Grande/AvenidaDias: Sexta-feira, sábado, segunda-feira e terça-feiraBanda: MalêTaxa: R$ 200 Informações: (71) 3249 3451


Ilê Aiyê Circuito: Campo Grande/AvenidaDias: Sábado, segunda-feira e terça-feiraBanda: Band’AiyêTaxa: R$ 400 Informações: (71) 3256 8800

segunda-feira

Rastafári é um movimento religioso que prega o retorno dos negros à terra natal de seus antepassados, a África.












Rastafári é um movimento religioso que prega o retorno dos negros à terra natal de seus antepassados, a África.
Este movimento proclama
Haile Selassie I, imperador da Etiópia, como a representação terrena de Jah (algo do que os abraamicos chamam de Deus). Este termo advém de uma forma contraída de Jeová encontrada no salmo 68:4 na versão da Bíblia do Rei James, e faz parte da trindade sagrada o Messias prometido. O nome Rastafari tem sua origem em Ras (príncipe ou cabeça) Tafari Makonnen, o nome de Haile Selassie I antes de sua coroação.

O movimento surgiu na
Jamaica entre a classe trabalhadora e camponeses negros em meados dos anos 30, iniciado por uma interpretação da profecia bíblica em parte baseada pelo status de Selassie como o único monarca Africano de um país totalmente independente e seus títulos de Rei dos Reis, Senhor dos Senhores e o conquistador do Leão de Judá, que foram dados pela Igreja Ortodoxa etíope, que existe há muito tempo e não tem relação com a Católica.

Alguns historiadores, afirmam que o movimento surgiu, e teve posteriormente adesão, por conta da exploração que sofria o povo jamaicano, o que favorece o surgimento de idéias religiosas, vide a
Guerra de Canudos e Guerra do Contestado, as quais tiveram seus respectivos líderes messiânicos.
Outros fatores inerentes ao seu crescimento incluem o uso sacramentado da
maconha ou "erva", aspirações políticas e afrocentristas, incluindo ensinamentos do publicista e organizador Jamaicano Marcus Garvey (também freqüentemente considerado um profeta), o qual ajudou a inspirar a imagem de um novo mundo com sua visão política e cultural.
O movimento é algumas vezes chamado Rastafarianismo, porém alguns Rastas consideram este termo impróprio e ofensivo, já que "ismo" é uma classificação dada pelo sistema babilônico, o qual é combatido pelos rastas.
O movimento Rastafari se espalhou muito pelo mundo, principalmente por causa da
imigração e do interesse gerado pelo ritmo do Reggae; mais notavelmente pelo cantor e compositor de Reggae jamaicano Bob Marley. Em 2000 haviam aproximadamente 1.000.000 de seguidores do Rastafari pelo mundo, segundo uma pesquisa, mas é algo realmente difícil de saber, pois muitos vivem longe da civilização. Por volta de 10% dos jamaicanos se identificam com Rastafaris. Muitos dos Rastafaris são vegetarianos, ou comem apenas alguns tipos de carne, vivendo pelas leis alimentares de Levítico e Deuteronômio no Velho Testamento.

O encorajamento de Marcus Garvey aos negros terem orgulho de si mesmos e de sua
herança africana inspiraram Rastas a abraçar todas as coisas africanas. Eles eram ensinados que haviam sofrido lavagem cerebral para negar todas as coisas negras e da África, um exemplo é o porque que não te ensinam sobre a Antiga Nação Etíope que derrotou os italianos 2 vezes e foi a única nação livre na África desde sempre. Eles mudaram sua própria imagem que era a que os brancos faziam deles, como primitivos e saídos das selvas para um desafiador movimento pela cultura africana que agora é considerada como roubada deles, quando foram retirados da África por navios negreiros. Estar próximo a natureza e da savana africana e seus leões, em espírito se não fisicamente, é primordial pelo conceito que eles tem da cultura africana.
Viver próximo e fazer parte da natureza é visto como africano. Esta aproximação africana com a natureza é vista nos
dreadlocks, Ganja, e comida fresca, e em todos os aspectos da vida Rasta. Eles desdenham a aproximação da sociedade moderna com o estilo de vida artificial e excessivamente objetivo, renegando a subjetividade a um papel sem qualquer importância.
Rastas dizem que os cientistas tentam descobrir como o mundo é por uma visão de fora, quando os Rastas olham a vida de dentro, olhando para fora, e todo Rasta tem de encontrar sua própria verdade.
Outro importante identificador da Afrocentricidade é a identificação com as cores verde, dourado, e vermelho, representantativas da
bandeira da Etiópia. Elas são o símbolo do movimento Rastafari, e da lealdade dos Rastas a Haile Selassie, a Etiópia e a África acima de qualquer outra nação moderna onde eles possivelmente vivem. Estas cores são freqüentemente vistas em roupas e decorações. O Vermelho representa o sangue dos mártires, o verde representa a vegetação da África enquanto o dourado representa a riqueza e a prosperidade que a África tem a oferecer.
Muitos Rastafaris aprendem a
língua amárica, que eles consideram ser sua língua original, uma vez que esta é a língua de Haile Selassie I, e para identificá-los como etíopes; porém na prática eles continuam a falar sua língua nativa, geralmente o inglês, mas diferenciado, o falado na jamaica (patois). Há músicas de reggae escritas em amharic.


Haile Selassie e a Bíblia


Uma opinião que une os Rastafaris é que Ras, um título de nobreza Amharic correspondente a
príncipe ou cabeça; também podendo significar principal. Tafari Makonnen que foi coroado como Haile Selassie I imperador da Etiópia em 2 de Novembro de 1930, é a encarnação do chamado Jah (Deus) na Terra, que é o Messias Negro que irá liderar os povos de origem africana a uma terra prometida de emancipação e justiça divina. Porém algumas correntes rastafaris não acreditam nisso literalmente. Parte porque seus títulos Rei do Reis, Senhor dos Senhores e Conquistador Leão da tribo de Judá, apesar de se encaixarem com aqueles que o Messias mencionou no livro de Judá, também foram dados, de acordo com a tradição etíope, a todos os Imperadores Salomônicos desde 980 a.C. , mas Selassié foi o único que recebeu, evidentemente, Todos os títulos, ainda os mais sagrados como "Supremo Defensor da Fé" e "Poder da Santíssima Trindade", Haile Selassie era, de acordo com algumas tradições, o ducentésimo vigésimo quinto na linha de imperadores etíopes descendentes do bíblico Rei Salomão e a Rainha de Sabá. O salmo 87:4-6 é também intrepretado como a previsão da coroação de Haile Selassie I.
No
século X a.C., a dinastia Salomônica da Etiópia foi iniciada com a ascensão ao poder de Menelik I, filho de Salomão e da Rainha de Sabá, que visitava Salomão em Israel. 1 Reis 10:13 diz "E o Rei Salomão realizou todos os desejos da Rainha de Sabá, um destes sua própria generosidade Real. então ela voltou e foi para seu próprio país, ela e seus servos." Segundo a popular epopéia étíope Kebra Negast, Rastas interpretam isto como o significado que ela concebeu seu filho, e disto eles concluem que as pessoas negras são as verdadeiras crianças de Israel, ou hebraicas. Hebreus negros tem vivido na Etiópia por séculos, sem conexão com o resto do mundo judaico; a existência deles deram credenciais e ímpeto para os primeiros Rastafaris, validando a crença de que a Etiópia é na verdade Zion, a Israel de um Novo-Nome, já que só lá que a Casa de Davi reinava soberana, sob um país cristão/judaico, além do mesmo reino possuir a Arca da Aliança.
Alguns Rastafaris escolhem clasificar sua religião como Cristianismo ortodoxo etíope, Cristianismo Protestante, ou Judaísmo. Entre estas, os laços para a Igreja etíope são os mais difundidos, embora isto seja uma controvérsia para muitos clérigos etíopes. Rastafaris acreditam que as traduções comuns da Bíblia incorporam mudanças criadas pela estrutura da força branca racista. Alguns adoram a Kebra Negast, mas muitos destes Rastas classificariam-se como etíopes ortodoxos na religião e Rastafaris na ideologia. Alguns Rastafaris prestam pouca atenção ao Kebra Negast, e muitos consideram isto como nada próximo da santidade da Bíblia.
Para a religião Rastafari, Selassie I permanece seu Cristo e seu rei. Eles vêem Selassie como digno da adoração, e como tendo erguido-se com grande dignidade perante a imprensa internacional e de muitas das nações mais poderosas do mundo, quando ele era o único
chefe de estado negro em todo o planeta. No começo os Rastas decidiram que sua permanente lealdade iria ser dedicada ao único comandante africano negro, Selassie, e estes eram bem como os livres cidadãos da Etiópia, leais a seu imperador e devotados à bandeira.
Muitos Rastafaris acreditam que Selassie é de certa forma a volta de
Cristo e assim os Rastafaris são os verdadeiros Israelitas. Alguns Rastafaris ainda acreditam que Jesus era Moisés filho de José, enquanto Selassie I é Moisés filho de David e usam uma visão não milenar do reinado de Cristo e uma visão pós milenar para Selassie I. No coração do Rastafari está a crença de ser o próprio Rei ou príncipe (por isso eles se proclamam Rastafari). Como o Rei Midas cantou "Quando eu vi meu pai com a picareta e minha mãe com a vassoura, eu soube que o homem Rasta estava exilado" (Rei Midas, Rastaman exilado, 1980). Rastas dizem que eles foram escravizados, mas converteram isso ao seu próprio potencial divino, acreditando que como Selassie I interrompeu esse ciclo, eles também são dignos de Reis e Príncipes.
Rastas chamam Selassie De Jah ou Jah Rastafari, e acreditam haver uma grande força nestes nomes. Eles autoproclamam-se Rastafari para expressar a relação pessoal que cada Rasta tem com Selassie I. Rastas gostam de usar o número ordinal com o nome Haile Selassie I, com o número romano dinástico significando o primeiro deliberadamente pronunciado como a letra I - novamente como signicado da relação pessoal com Deus. Eles também o chamam de H.I.M sigla em inglês para "Sua Majestade Imperial" (His Imperial Majesty). Isso tudo reflete unidade, tendo em consideração que muitas das palavras Rastas começam com "I", como "I-Ration" e "I and I".
Quando Haile Selassie I alegadamente morreu em
1975, sua morte não foi aceita por alguns Rastafaris que não podiam aceitar que o Deus encarnado poderia morrer. Muitos acreditam que a morte de Selassie foi um engodo, e que ele voltaria para libertar seus seguidores, vendo que ninguém sabe o que ocorreu com Selassié, pois os ossos achados eram pequenos demais para ele e o DNA também não provou nada. Os Rastas atualmente consideram este parcial preenchimento de profecia encontrado no Apocalipse Esdras 2 7:28. Uma história anônima da fé Rastafari aponta para Debre Damo, um dos três antigos Príncipes das Montanhas. Ele acredita que depois Derg ordenou sua execução, os leais da guarda imperial trabalhando como agentes duplos usaram hipotermia induzida para fazer Selassie aparecer morto. Ele e os remanescentes leais da Guarda Imperial foram contrabandeados para assegurar o significado da estrada de ferro subterrânea. Eles agora caem em êxtase em um quarto secreto debaixo do monastério até o dia do julgamento, no qual eles serão automaticamente reanimados e totalmente revelados 11:19-21.Assim como a Arca que está na Etiópia irá surgir. Isto deve ocorrer apenas depois dos idosos libertarem o povo da Jamaica, pois Selassié, em 1966, disse que a Repatriação e Revelação só ocorreriam após a Jamaica ser libertada pelos Rastafaris.

Beleza Caseira: Receitas da “vovó” de xampus, para fazer em casa


Beleza Caseira: Receitas da "vovó" de xampus, loções e creme rinse para fazer em casa. Faça você mesma seus cosméticos. Os ingredientes você encontra em qualquer farmácia de homeopatia. Tudo muito simples e bem barato.
Xampu Para Cabelos Normais:
1 tablete de sabonete neutro de lanolina (de glicerina); 1 colher de sopa de vinagre de maçã; ½ litro de água; 30 ml de tintura de Hamamelis. Colocar o sabonete cortado em tirinhas em uma panela de esmalte ou inox e acrescentar a água quente. Mexer com uma colher de pau até que o sabonete dissolva. Após o resfriamento, adicionar o vinagre e a tintura.
Xampu Para Cabelos Normais:
(Outra fórmula): ½ litro de chá de erva cidreira; 1 sabonete neutro de lanolina ou ½ litro de chá de camomila; 1 sabonete neutro de leite. Dissolver os sabonetes no leite ainda quente.

Xampu Para Cabelos Oleosos:
1 tablete de sabonete neutro de calêndula (de glicerina); 1 litro de chá de capim limão. Dissolver o sabonete no chá ainda quente. Se desejar, acrescente uma colher de sopa de vinagre de maçã (depois que a mistura estiver fria).

Xampu Para Cabelos Oleosos Com Caspa e Seborréia:
1 litro de chá de confrey; 2 sabonetes de glicerina. Dissolver o sabonete no chá ainda quente.
Xampu Para Cabelos Secos: 1 tablete de sabonete neutro de lanolina (glicerina); 1 litro de água; 1 colher (sopa) de mel de abelha. Dissolver o sabonete na água quente e depois acrescentar o mel.
Xampu Para Cabelos Secos (outra fórmula):
1 sabonete neutro de lanolina; 1 litro de água; 1 colher de Bepantol B-12; 1 colher de chá de glicerina. Dissolver o sabonete na água fervente. Depois do resfriamento adicionar o Bepantol e a glicerina.

Xampu Para Cabelos Com Caspa:
1 tablete de sabonete neutro de calêndula (glicerina); 1 litro de água; 1 colher de sopa de tintura de calêndula; 1 colher de sopa de tintura de jaborandi. Fazer como nos casos anteriores - acrescentar as tinturas após o resfriamento.

Xampu Para Queda de Cabelos:
1 sabonete neutro de glicerina; ½ litro de água; 1 colher (chá) de extrato de confrey; 1 colher (sopa) de Bepantol B-12. Dissolver o sabonete na água fervente. Depois do resfriamento acrescentar o chá e o Bepantol.

Loções

Loção Para Cabelos Opacos:
Misturar ½ litro de água de flor de laranjeira com 1 colher de sopa de vinagre de maçã. Depois de lavar os cabelos aplique a loção e os deixe secar naturalmente.

Loção Anticaspa:
Misturar 80ml de tintura de álcool de cereais, 10ml de tintura de jaborandi, 10ml de tintura de confrey, 10 gotas de glicerina pura, 50ml de água de rosas.

Loção Para Estimular o Crescimento:
Misturar 50ml de álcool de cereais, 10ml de tintura de jaborandi, 50ml de chá de equisetum.
Loção Para Queda de Cabelo: Misturar ½ litro de chá de confrey, 500ml de álcool de cereais, 1 litro de Bepantol B-12. Aplicar diariamente e depois de lavar os cabelos.

Loção adstringente:
Colocar as cascas de dois pepinos de molho em 1 litro de álcool de cereais durante uma semana. Depois desse período, coar o líquido em um papel de filtro e completar o litro com água fervida. Acrescentar ainda uma colher de Bepantol B-12. Aplicar diariamente e depois de lavar os cabelos.

Coquetéis Que Atuam Como Creme Rinse

Coquetel de Ovo:
Misturar 1 gema de ovo bem batida, uma colher (sopa) de óleo de amêndoa doce, uma ampola de Arovit. Aplicar e deixar o cabelo envolto por 20 minutos em uma toalha quente. Enxaguar com água morna.

Coquetel de Abacate:
Misturar 2 colheres de polpa de abacate batida, 1 colher (sopa) de mel de abelha. Aplicar da mesma maneira que o coquetel de ovo.

África Fashion



Cores fortes, turbantes, tranças, jóias grandes e muita exuberância marcam a moda africana que serviu de inspiração para várias coleções de verão apresentadas no São Paulo Fashion Week.

Mesmo sendo pouco conhecido, o continente africano é sem dúvida um dos mais belos do planeta. A exuberância se faz presente no vestuário típico de algumas regiões por meio de roupas com cores, digamos, pouco discretas. Se o continente é quente, os tons do vestuário acompanham o clima. E foram as cores fortes misturadas a beleza natural da terra e do povo africano que serviram de inspiração para alguns estilistas nesta última edição do São Paulo Fashion Week (SPFW) que está acontecendo em São Paulo. A África também invadiu cinco coleções. Os estilistas apostam: a primavera-verão 2007 vai ser assim, cheia de cores fortes e estampas gráficas. Se você gosta de acompanhar a moda, se prepare para fazer a cabeça. O turbante das africanas também vai entrar na moda. Com um belo lenço, dá até para improvisar. Uma moda alegre, divertida, mas que vai exigir certa coragem pra inovar o guarda-roupa.

sexta-feira

Sistema de classificação de cor do IBGE

Enquanto na boca floresce a palavra que será, fique de olho no IBGEvra


Alexandre Rodrigues e Felipe Werneck, ao informarem em matéria do Estadão que o sistema de classificação de cor do IBGE está sendo revisado pelo órgão, já adiantaram uma conexão relevante, a saber, que “A decisão foi anunciada no momento em que a proporção de autodeclarados pretos e pardos (49,5%) da população encostou na de autodeclarados brancos (49,7%), segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2006”.
Os técnicos do IBGE, conforme ainda a reportagem de “O Estado de S. Paulo” (29.09.2007, p. A35), vão verificar em 2008 “se as atuais cinco categorias (branca, preta, parda, amarela e indígena) estão adequadas à realidade do País”.
A notícia é preocupante por várias razões, uma delas já adiantada no lead de Rodrigues e Werneck. O “momento” é de expansão da consciência negra, quando na boca daquele(a) que se declara ao recenseador floresce a palavra que será, lembrando aqui um poema de Mário de Andrade.
Em minha opinião acerta quem enxerga nas anunciadas mudanças de critério marcas da pressão anticotas, cujos representantes não têm o menor pudor em declarar que “O Brasil não tem cor. Tem todo um mosaico de combinações possíveis”. (A frase é de Carlos Lessa.)
Essas combinações se dão sempre em prejuízo da identidade negra – no momento em que se amplia a noção de afro-pertencimento e cresce o engajamento numa prática política que já não aceita a mutilação da dimensão racial. É preciso acentuar ainda que a identidade branca foi sempre resguardada nessas “combinações”. Ela é a identidade que se confunde com a do poder político, econômico e ideológico. A valorização da mestiçagem e suas “combinações” é, afinal, uma das expressões do arraigado sentimento antinegro das elites.
Uma outra razão de preocupação diz respeito ao histórico nada tranqüilizador do IBGE, quando o assunto é a cor da população. A PNAD mesmo, só para ficarmos em um exemplo, já ignorou a cor dos entrevistados. A introdução do quesito cor se deu a partir de 1988, sob forte pressão. Quem poderia falar de racismo se a cor/raça não estava presente nas pesquisas amostrais? E a construção de indicadores, para a elaboração de políticas públicas, tomaria como referência qual base de dados?
O outro lado disso tudo nós poderíamos chamar de Síndrome do Chinaglia, que se manifesta nos dias que se seguem à divulgação de indicadores sociais e econômicos com a variável cor/raça. A síntese divulgada na semana passada pelo IBGE dos dados colhidos na última PNAD reiterou a informação, por exemplo, acerca da remuneração inferior de “pretos” e “pardos” em relação a “brancos” com a mesma educação.
O estado mórbido que alcança formadores de opinião, partidos políticos e chefes de governos em todos os níveis pode ser resumido na frase: Quem se importa mesmo com isso? Isso, o racismo, não existe e essas associações da PNAD entre cor e remuneração não passam de fantasias estatísticas, sem nenhuma relação com práticas sociais concretas, opressivas e desumanizadoras. Precisamos rever esses critérios aí, eles dizem.
Há os que fingem admitir alguma realidade nos dados da pesquisa que, é bom que se diga, apenas vislumbra as desigualdades e a subordinação racial, mas também são dominados pela inércia e dedicam-se à contemplação perversa. Na verdade, deixam-se conduzir pela ilusão de que o racismo, deixado em paz, se desmancha no ar. Essa inércia é, no fundo, resistência à mudança e traduz mesmo a confiança que depositam na reprodução infinita do modelo de opressão racial vigente entre nós e que os beneficia de vários modos.
No entanto, como dizia o Galileu de Brecht, as pesquisas (uma conquista política) vêm revelando desde a passagem dos anos oitenta para os noventa que “na minha boca floresce/a palavra que será”.

Edson Lopes Cardoso.
colaborador

Educação e igualdade

Banco Real e Ceert dão início à 4ª edição do prêmio “Educar para a Igualdade Racial: Experiências de Promoção da Igualdade Racial-Étnica no Ambiente Escolar”

O Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), em parceria com o Banco Real, lança a 4ª edição do Prêmio “Educar para a Igualdade Racial: Experiências de Promoção da Igualdade Racial-Étnica no Ambiente Escolar”, com o objetivo de sensibilizar e subsidiar profissionais da educação na inclusão social de crianças de diferentes etnias.
Professores e escolas da rede pública ou privada, de educação infantil e ensino fundamental I (1ª a 4ª série), poderão inscrever projetos políticos pedagógicos que valorizem a igualdade racial, por exemplo: pesquisas, exposições, produções teatrais, entre outros, para potencializar o debate e contribuir para eliminar a discriminação racial. “É preciso tornar o tema conteúdo permanente nas salas de aula, só assim promoveremos a igualdade entre os cidadãos”, diz Cida Bento, diretora executiva do Ceert.
Foram feitas algumas mudanças na premiação. A primeira delas é a abrangência do prêmio, que deixa de ser nacional e passa a focar no Estado de São Paulo. Assim, o Banco Real e o Ceert acompanharão de perto as ações realizadas e conseguirão se aprofundar e sistematizar as experiências conduzidas nas escolas.
A segunda mudança é que agora, apenas os professores de escolas de Educação Infantil e ensino Fundamental I (1ª a 4ª série) podem concorrer, já que sabemos que o investimento na primeira infância é de importância indiscutível.
A terceira alteração foi a criação da categoria “Escola”, que objetiva premiar as iniciativas institucionais. “Queremos dimensionar e encorajar iniciativas assumidas pela escola como um compromisso da própria instituição”, diz Laura Oltramare, superintendente de desenvolvimento sustentável do Banco Real.
Quatro professores, dois de educação infantil e dois de ensino fundamental, serão premiados com 5 mil reais, participarão de um curso sobre a temática racial desenvolvido pelo Ceert e ganharão um kit de livros que envolvem o tema da diversidade humana e pluralidade cultural.
Na categoria “Escola”, quatro professores serão premiados com livros e a participação dos gestores responsáveis no curso, cada escola será contemplada com 10 mil reais.
Com objetivo de contribuir para a consolidação e sistematização dos projetos premiados, um júri técnico elegerá duas instituições de ensino para que o Ceert as acompanhe por até 12 meses.
O edital e ficha de inscrição estarão disponíveis no site www.ceert.org.br a partir de 7 de dezembro de 2007.
As inscrições para a 4ª edição do Prêmio “Educar para a Igualdade Racial” poderão ser feitas de 3 de março a 5 de maio de 2008.

quinta-feira

Quem foi açoitado não é obrigado a gostar de quem açoitou, diz ministra

NEGRO CONTRA BRANCO NÃO É RACISMO, Declaração causou desconforto no governo.

Causou desconforto no governo a divulgação de uma declaração da ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir), segundo a qual é natural a discriminação de negros contra brancos. Em entrevista à BBC Brasil para lembrar os 200 anos da proibição do comércio de escravos pela Inglaterra, ela afirmou que "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco". E explicou: "Quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou."
A reação foi imediata e veio de militantes negros e de integrantes de movimentos sociais. "Como negro, não alcanço o sentido de tão estranha declaração", criticou Percílio de Sousa Lima Neto, vice-presidente do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, órgão do Ministério da Justiça. Ele disse que, por princípio, condena qualquer tipo de discriminação ou preconceito, seja de negros ou brancos, mas avaliou que precisaria conhecer o contexto da entrevista "para emitir melhor juízo". Membros do governo evitaram comentar a declaração.
Diante da reação negativa, Matilde divulgou uma nota, por meio da assessoria, alegando que trechos da entrevista foram tirados de contexto, causando visão distorcida das suas declarações e "induzindo o leitor a equívoco". Ela lembrou que, no decorrer da entrevista, deixa claro que não está incitando condutas racistas. "A afirmação apenas reconhece a histórica situação de exclusão social de determinados grupos étnicos no Brasil, prevalecente após 120 anos da abolição, que pode, por vezes, provocar esse tipo de atitude - também condenável", ressaltou.

DNA de negros famosos retrata Brasil mestiço


O que poderia ter sido apenas uma curiosidade - desvendar as origens genéticas de nove celebridades de origem negra - ajudou a confirmar que o DNA dos brasileiros guarda uma mistura ainda mais complexa do que a aparência física do nosso povo sugere. Segundo o geneticista Sergio Danilo Pena, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Laboratório Gene responsável pelos testes, os afro-brasileiros famosos se encaixam perfeitamente no que se vê entre pessoas comuns que se definem como negras.

"É incrível, mas os resultados que obtivemos nas nove pessoas estudadas são um microcosmo dos resultados de nosso estudo com indivíduos autoclassificados como pretos em São Paulo", contou Pena ao G1. O pesquisador da UFMG fez os testes a pedido da rede BBC Brasil.

O time de celebridades é integrado pelos cantores Milton Nascimento, Djavan, Seu Jorge e Sandra de Sá, pela ginasta Daiane dos Santos, pela atriz Ildi Silva, pelo puxador de samba Neguinho da Beija Flor, pelo jogador de futebol Obina e pelo religioso e ativista da causa negra Frei David Santos.

A BBC Brasil deve detalhar os resultados ao longo da semana. O primeiro, divulgado hoje, envolveu Daiane dos Santos e revelou que ela possui 39,7% de ancestralidade africana, 40,8% de ancestralidade européia e 19,6% de ancestralidade indígena. No entanto, Pena alerta que não se pode tomar literalmente demais o dado, por causa da margem de erro. Assim, não se pode dizer que Daiane seja geneticamente mais européia do que negra - a diferença entre as proporções não é estatisticamente significativa.

Não é a primeira vez que Pena investiga o perfil genômico de famosos. Em agosto do ano passado, o Fantástico exibiu testes com famosos como Ivete Sangalo (99,2% européia, 0,4% indígena e 0,4% africana), Marcos Palmeira (93% europeu, 5,5% indígena e o restante africano), Luiza Brunet (80% de ancestralidade européia, 15,5% de ancestralidade ameríndia e o restante africana) e Zeca Camargo (96,5% europeu, 2,6% indígena e apenas 0,9% africano).

A miscigenação acentuada, com proporções variáveis de contribuição genética de cada continente, também aparece nos estudos anteriores de Pena e seus colegas com populações do país. O mais significativo do ponto de vista histórico, no entanto, é a falta de equilíbrio entre a ascendência materna e a paterna das pessoas. Quase 90% dos famosos descendem de africanos pelo lado materno, mas só 44% deles têm a mesma ascendência pelo lado paterno.

"Isso reflete o fato de que, no Brasil, os relacionamentos entre pessoas de origem diferente eram sexualmente assimétricos", diz Pena. Trocando em miúdos: os brancos do sexo masculino tendiam a ter como parceiras mulheres negras ou indígenas, muitas vezes à força, mas o contrário - negros ou índios tendo filhos com brancas - quase nunca acontecia. Daí o desequilíbrio.

Do Oeste e de além
Os dados sobre os famosos são apenas uma pequena peça de um quebra-cabeças que está ficando mais claro graças a Pena e seus colegas, entre eles a geneticista Maria Cátira Bortolini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Nos últimos anos, eles têm mapeado a diversidade genética das populações africanas e brasileiras para entender melhor as origens dos negros do Brasil.

Três ferramentas principais são usadas para isso. A primeira é o DNA mitocondrial ou mtDNA, presente nas mitocôndrias, as usinas de energia das células. Ele só é passado de mãe para filho ou filha, e ajuda a estimar a ancestralidade materna da pessoa. A segunda é o cromossomo Y, a marca genética da masculinidade. Ele só é passado de pai para filho homem, fazendo, portanto, o serviço complementar ao mtDNA.

Os dois marcadores, no entanto, não perfazem um quadro integrado da herança genética de alguém. Assim, os pesquisadores estudam também vários trechos do DNA do núcleo da célula, que abriga tanto material de origem materna quanto paterna. Pena e seus colegas desenvolveram uma metodologia que envolve 40 regiões do DNA nuclear, que se distinguem por inserções (trechos a mais) ou deleções (trechos a menos) típicos. Elas têm uma correlação bastante boa com os continentes de origem da pessoa, permitindo fazer a estimativa de porcentagem, como a divulgada para Daiane dos Santos.

Os pesquisadores brasileiros descobriram recentemente que talvez seja preciso reescrever as origens presumidas para os afro-brasileiros. Até então, acreditava-se que uns 70% dos escravos brasileiros tivessem vindo de Angola, no Centro-Oeste da África, quase 20% do sudeste do continente (Moçambique e regiões vizinhas) e só uns 10% da África Ocidental (Nigéria e países adjacentes). O DNA dos negros paulistas, porém, indica que essa contribuição do oeste do continente pode ter sido entre duas e quatro vezes maior do que se acreditava.

Para Pena, a explicação mais provável é que os negros paulistas tenham recebido a contribuição de ancestrais de origem nigeriana vindos da Bahia, onde a maior parte dos escravos da África Ocidental desembarcara. Isso teria ocorrido no século 19, com o auge do ciclo do café, quando os paulistas compravam escravos da decadente economia nordestina e até recebiam negros alforriados em busca de emprego.

Escolha o seu roteiro de réveillon


Ainda não decidiu onde vai passar a noite do dia 31? Se optou por viajar, ficar em casa, reunir os amigos, fazer uma festa familiar ou cair na gandaia, as opções são bastante diversificadas. O tradicional reveillon da Bahia Marina, comandado pela promoter Lícia Fábio completa dez anos com a presença de Margareth Menezes e Zeca Pagodinho no palco e a vista da baía de Todos os Santos como presente. Para quem gosta de luxo e sofisticação. Uma bela vista, entretanto, também pode ser apreciada na noite da virada sem tanto luxo e por um precinho mais em conta, seja em uma barraca de praia, restaurante, hotel ou clube, já que várias festas em Salvador têm o mar entre suas atrações.
Quem escolheu sair da capital e relaxar em algum dos destinos turísticos baianos, também está bem servido. Uma das opções mais festejadas é Arraial D’Ajuda, que terá cinco dias de festa com o pretexto do reveillon. Ivete Sangalo, Asa de Águia e Babado Novo são algumas das atrações que vão encher de axé music o fim de ano de quem aparecer por lá. O Farol da Barra é a boa e velha opção para quem fica em Salvador sem muito dinheiro no bolso. Neste ano, a prefeitura contratou Carlinhos Brown, Olodum e as bandas A Tapa e Batifun. Tradicionalmente, a festa da virada conta com um grande show pirotécnico após a meia noite.

ENTREVISTAS: As pesquisas na Bahia sobre os afro-brasileiros


HÁ MAIS DE UM SÉCULO começaram na Bahia as pesquisas sobre os escravos trazidos da África nos navios negreiros. Desde Nina Rodrigues, inúmeros cientistas estudaram a evolução e a problemática dos negros, um tema fundamental, tendo em vista a presença majoritária dos afro-descendentes na cidade de Salvador.
Em razão disso, foi bastante significativa a contribuição de Arthur Ramos, Édison Carneiro, Pierre Verger, Luiz Viana Filho, além de outros pesquisadores, para esses estudos, bem como os trabalhos de pesquisa do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), uma instituição da Universidade Federal da Bahia.
Para registrar essa trajetória, entrevistamos, no dia 9 de fevereiro, o professor Waldir Freitas Oliveira que, durante onze anos, dirigiu o CEAO.
ESTUDOS AVANÇADOS - Como o sr. analisa o trabalho dos antropólogos, historiadores e cientistas sociais que pesquisaram, na Bahia, as comunidades afro-brasileiras e o preconceito racial?
Waldir Freitas Oliveira - Essas pesquisas foram iniciadas por Nina Rodrigues, seguidas por Arthur Ramos e, finalmente, naquela época, por Édison Carneiro. Este, com o apoio de Arthur Ramos e Áydano do Couto Ferraz e outros mais, organizaram, na Bahia, em 1937, o II Congresso Afro-Brasileiro. Naquela reunião pretenderam, de uma certa forma, mostrar aos pernambucanos que haviam realizado em Recife, em 1934, liderados por Gilberto Freyre, o I Congresso Afro- Brasileiro. Nós, em Salvador, tínhamos idéias próprias sobre o problema do negro. Isso porque não concordávamos, integralmente, com a concepção de Gilberto Freyre sobre a formação social do Brasil e com a sua teoria sobre relações raciais.
Naquele encontro houve a tentativa da criação em Salvador de um núcleo de pesquisas dedicadas ao estudo da escravidão. Mas esse objetivo não foi adiante porque, com a insurreição comunista de 1935, Édison Carneiro esteve ameaçado de ser preso. E também porque, logo em seguida, veio o Estado Novo. Desse modo, aconteceu uma paralisação nessas atividades e ficamos, por algum tempo, sem estudos africanistas na Bahia. Mesmo assim, em 1937, Édison Carneiro publicou seu livro de estréia Negros bantus, editado no Rio de Janeiro.
Houve, então, um intervalo de alguns anos nessas pesquisas; mas, em 1946, foi lançado, também no Rio de Janeiro, um importante livro, escrito por Luís Viana Filho, chamado O negro na Bahia. Este livro não é só um trabalho de pesquisa, mas também um arquivo documental.
Em 1948 foi lançado, desta vez, na Bahia, o livro Candomblés da Bahia, de Édison Carneiro, que já havia, no entanto, a esse tempo, se transferido para o Rio de Janeiro. Depois, em 1957, houve uma contribuição muito boa para os estudos africanistas com a edição em Dacar, no Senegal, do livro Notes sur le culte des orisa et vodun à Bahia, la Baie de tous les Saints, au Brésil et à l'ancienne Côte des esclaves em Afrique, de autoria de Pierre Verger, editado pelo Institut Français d'Afrique Noire, obra de fundamental importância para quem quiser estudar o negro na Bahia e o candomblé. Lembrando que, àquela altura, Roger Bastide e Melville Herskovits estavam apenas começando suas pesquisas de campo sobre o negro no Brasil.

A criação do CEAO
Quando se realizou, em 1959, em Salvador, o 2º Colóquio de Estudos Luso-Brasileiros, chegou à Bahia o professor George Agostinho da Silva, um português que tinha se auto-exilado no Brasil depois de haver sido perseguido pelo governo de Salazar. Agostinho propôs ao então reitor da Universidade da Bahia, Edgar Rego dos Santos, a criação de um Centro de Estudos Afro-Orientais.
O Centro foi criado e retomaram-se, então, os estudos sobre os negros na Bahia. Foram convidados para integrar esse núcleo, por Agostinho da Silva, o antropólogo Vivaldo da Costa Lima, o jornalista Nelson de Sousa Araújo e eu, que, a esse tempo, era apenas um professor de geografia interessado em estudos africanos. Foi com esse grupo que o Centro de Estudos Afro-Orientais começou suas atividades.
A primeira coisa que fizemos foi tentar aprender coisas que os pesquisadores brasileiros, que nos antecederam, não sabiam. Eles nunca haviam estado na África. Apenas a conheciam por meio do que fora escrito sobre os africanos, no Brasil, por Nina Rodrigues e Arthur Ramos, entre outros. Então, Vivaldo da Costa Lima foi mandado para a África. Ali ficou por três anos, como professor da Universidade da Bahia, pesquisando e trabalhando na Nigéria, no Daomé (o atual Benin), em Gana e em outros países da África Ocidental.
Quando esse antropólogo voltou à Bahia, decidimos passar para a população da Bahia, especialmente para os negros baianos, o que havíamos aprendido tanto pela leitura dos clássicos como nas pesquisas na África. Iniciamos, de modo regular, e por vários anos, uma série de cursos, que apresentavam títulos sugestivos e inéditos até então no Brasil, como: História da África Negra, Geografia Regional da África Negra e Culturas Africanas no Brasil.
As aulas não eram especialmente destinadas a professores, nem somente para os que tivessem um curso superior, mas a todos os que possuíssem condições de ler e escrever e estivessem interessados no assunto. Assim, a afluência foi enorme, porque os negros baianos, que não freqüentavam ginásios ou faculdades, encontraram nesses cursos uma possibilidade de conhecer melhor a si mesmo.


A mentalidade do negro baiano, numa sociedade patriarcal como a da Bahia, era a de um excluído. O negro era realmente discriminado; mas isto se dava, de modo essencial, por sua ignorância, pelos seus hábitos, não por uma questão de cor. Tanto que existia entre nós uma expressão que se colocava entre aspas - "brancos da Bahia", que se referia a pessoas que nem sempre eram tão "brancas", mas desfrutavam de posição de algum relevo na sociedade. Ou seja, o preto que subia socialmente, de certo modo, era considerado branco. Porque as categorias "branco" e "preto", na Bahia, eram, muitas vezes, decorrentes da ascensão social de cada um. Assim, à cor negra se somavam a falta de instrução ou a falta de um emprego de prestígio. Em conclusão, havia um relacionamento muito estreito entre essas três coisas: - negro, pobre e ignorante.
Quando esses cursos foram oferecidos, os pretos tiveram a oportunidade de aprender que eles tiveram uma História antes de ser trazidos para cá. Compreenderam que não tinham sido os brancos que foram buscálos como escravos na África. Mas que os compraram de outros negros. Conheceram a sua história e aprenderam, também, a geografia das terras de onde foram trazidos.
Entenderam, ainda, o que significava a cultura dita "negra", pois nunca falávamos em cultura negra. Dizíamos sempre "culturas africanas", porque sabíamos que não existe uma "cultura negra" e sim que há culturas africanas variadas, já que a África Negra é um conjunto de culturas de uma complexidade imensa. Só num país, por exemplo, como Camarões, fala-se mais de cem dialetos.

O ensino da língua iorubá
A partir desse momento, os negros baianos começaram a entender que não havia razão para ficarem envergonhados de sua condição de negros. Batalhamos, nesse particular, o mais que nos foi possível. Trouxemos um professor de língua iorubá, o popularmente chamado nagô, que era a língua de uma parte dos escravos que vieram para o Brasil. Todavia, nem todos os negros falavam o nagô e nem todos se comunicavam em iorubá.
A etnia que teve maior número de escravos, na cidade de Salvador, contudo, falava iorubá. Esta língua veio junto com o candomblé e nele continua a ser usada. Tornou-se, porém, com o tempo, um iorubá deformado. (O iorubá é uma língua tonal, na qual cada vogal tem três tons: um baixo, um médio e um alto.) Essa diversidade tonal já havia se perdido, no passado, na Bahia, e os cantos em iorubá, entoados no candomblé, não tinham mais qualquer significação semântica para os seus praticantes, que continuavam a considerá-los sagrados, mas que não sabiam mais o que estavam cantando. Somente algumas poucas mães-de-santo tinham ainda uma certa noção sobre o que aqueles cantos representavam. Mas elas próprias também não eram mais capazes de manter um diálogo em iorubá, de falar o iorubá da antiga Nigéria.
Trouxemos, então, para a Bahia, um professor de iorubá formado em Oxford, Ebenezer Latunde Lasebikan. Quando ele chegou, a primeira coisa que quis fazer não poderia dar certo - ressuscitar o iorubá do passado. As comunidades locais do candomblé rejeitaram devolver ao iorubá a tonalidade perdida. O iorubá que eles sabiam, entendessem ou não, era aquele ali, e ninguém de fora teria o direito de dizer que estavam errados.
Depois, quando olhei as pessoas que haviam se inscrito no curso de iorubá, verifiquei que entre elas não havia nenhum professor de escola secundária, nenhum professor universitário, nenhum lingüista. Fui apurar a procedência dos freqüentadores do curso e constatei que todos ou quase todos eram do candomblé, "gente-de-santo", como chamamos aqui. Concluí, então, que aqueles alunos desejavam aprender o iorubá somente para ter a possibilidade de ascensão dentro da estrutura hierárquica do culto, da sua "casa-de-santo".
Esse fato provocou, inclusive, uma observação maliciosa que ouvi de René Ribeiro, que havia percebido aquele quadro. Ele me perguntou, certa feita, como estava indo a minha escola de "pais-de-santo". No começo, senti vontade de responder com agressividade. Mas compreendi, depois, que ele estava coberto de razão. Estudei, então, uma maneira de acabar com aquele curso, porque o mais importante seria devolver ao negro baiano não a sua antiga língua, mas a dignidade que ele havia perdido por desconhecer sua história e o seu passado, disso podendo orgulhar-se.
Mas, naquela ocasião, aconteceu a descolonização, a transformação das colônias africanas em países independentes e ganharam relevo a negritude e o movimento black nos Estados Unidos. O negro baiano começou a sentir-se como um grupo, que passou a ter orgulho da sua condição de negro, mas também a se considerar espoliado pela sociedade branca do passado.
Foi quando começou a ganhar força, na Bahia, um preconceito às avessas, um preconceito do preto contra o branco, chegando a se pôr em questão a legitimidade de um branco, como eu, ser o diretor do CEAO. Achavam que, por ser ele uma instituição de estudos africanistas, deveria ser dirigida por um negro.

A criação dos grupos carnavalescos
ESTUDOS AVANÇADOS - Professor, em que ano foi fundado o Centro?
Waldir Freitas de Oliveira - Em 1959 e fui diretor do CEAO de 1961 a 1972. Em 1972 já havia essa insatisfação do preto contra o branco. Logo depois começaram a surgir na Bahia grupos carnavalescos exclusivamente de negros. E foi por meio do carnaval que essa intolerância negra contra o branco se fortaleceu, pois surgiram blocos que não aceitavam a inclusão de elementos brancos. Lembrando, no entanto, que antes disso era comum, em Salvador, a existência de blocos de brancos que não aceitavam negros. Na opinião desses novos blocos negros, eles deveriam ser exclusivamente de negros, por desejarem mostrar que o negro é capaz de fazer, sozinho, alguma coisa tão importante quanto o branco. Queriam, assim, também, valorizar sua própria cultura e rejeitar uma outra que lhes havia sido imposta.
ESTUDOS AVANÇADOS - Esse comportamento continua atualmente?
Waldir Freitas Oliveira - Esses blocos continuam rejeitando a presença dos brancos, afirmando que existe um carnaval negro, independente do carnaval baiano. Mas Os Filhos de Gandhi é, no entanto, um clube no qual nunca houve, de modo declarado, esse preconceito, porque dele participam, até hoje, brancos e pretos. Todavia, essa não é a posição do Ilê Ayê, do Malê Debalê ou do Olodum. Este último, contudo, recentemente, mudou um pouco essa prática, porque descobriu um caminho comercial novo, com menos intransigência, para vender seu produto. A partir desse viés comercial, passaram a admitir também elementos brancos nas suas fileiras, porque se não os aceitassem, estariam perdendo mercado. Mas o Ilê Aiê e um outro bloco, o Malê Debalê, não sei se alguns outros mais, não admitem a presença de brancos nas suas fileiras. Justificam essa atitude dizendo que estão valorizando seu passado cultural. Com isso passou a existir, na Bahia, talvez como no passado, um carnaval essencialmente negro, como elemento isolado dentro do conjunto do carnaval baiano.
Esse preconceito do negro contra o branco encontra, naturalmente, defensores que agora caminham no sentido de apoiar a tese da reparação, a exigirem que a sociedade brasileira pague à população negra atual os prejuízos sofridos pelos negros no passado.

A questão das cotas
ESTUDOS AVANÇADOS - O sr. poderia explicitar sua opinião a respeito do problema das cotas nas universidades públicas para os afro-descendentes?
Waldir de Freitas Oliveira - Há, evidentemente, uma necessidade de se abrir espaço nas universidades públicas para os afro-descendentes, mas não por serem exclusivamente afro-descendentes. A característica fundamental do ensino na Bahia, pelo menos, e talvez no Brasil todo, é que o branco cursa colégios particulares, enquanto o preto vai para a escola pública. Em razão disso devemos encontrar um jeito de combinar o critério da etnicidade com o critério da escola pública, para abrir as portas das universidades aos egressos da rede pública de ensino, bem mais democrática em sua organização e funcionalidade que as escolas da rede privada, sem a preocupação de identificálos como afro-descendentes ou não.
Se privilegiarmos o preto para entrar na universidade, mesmo que ele não tenha preparo suficiente, iremos liquidar com a qualidade do ensino nas universidades. Ou, então não fará mais diferença o indivíduo ter, ou não, o conhecimento necessário para entrar na universidade.
Há uma semana, assisti à formação de duas turmas de cursos de nível universitário, um de administração hospitalar, outro de comércio exterior. A metade pelo menos dos formandos era composta por pretos e mulatos. Essa universidade é particular e nela estudam os pretos que podem pagar as mensalidades. Ninguém ali pergunta se eles são brancos ou pretos. Fui, também, professor de cursinho de vestibular, durante muitos anos, e sei que a pessoa que estuda em colégio particular, ou freqüenta um cursinho, tem maior possibilidade de passar no vestibular e entrar na universidade. Os brancos, freqüentadores, em sua maioria, dos cursinhos, formam, então, talvez oitenta por cento da população das universidades públicas brasileiras. Assim, nelas são poucos os pretos, isto não se devendo, porém, à sua cor, mas porque não tiveram eles, nem seus familiares, dinheiro para pagar escolas particulares ou esses cursinhos.

Quem é branco e quem é preto?
ESTUDOS AVANÇADOS - Como se deveria conceituar a população que não é branca?
Waldir de Freitas Oliveira - Quando estudei na França, hospedei-me na Casa do Brasil, em Paris, e mantinha longas conversas com um homem exemplar, maravilhoso, por todos conhecido, que se chamava Américo Jacobina Lacombe. Uma vez falou-me de certos documentos que encontrara na Biblioteca de Paris. Tratava-se, inicialmente, de uma carta escrita no fim do século XIX, na qual o governo francês escrevia para seu embaixador, no Rio de Janeiro, perguntando o que iria acontecer no Brasil, com a abolição da escravatura e se os negros iriam tomar o poder no país. O governo francês mostrava-se, naturalmente, preocupado com o que havia acontecido em São Domingos, atual Haiti. O embaixador respondera, então, dizendo para não se preocupar com isto, porque ele só conhecia como brancos, no Brasil, os membros da família Bragança, a de D. Pedro II. Ou seja, já havia no país, a esse tempo, como se deduz, uma miscigenação acentuada, em uma época na qual não havia ainda começado, de modo intenso, a corrente migratória de europeus. O Brasil, já era, portanto, um país de mulatos. Quem enxergou e declarou isso, pela primeira vez, foi, talvez, Darcy Ribeiro.
Não sei, na realidade, quem é branco e quem é preto, no Brasil. Se formos adotar o princípio norte-americano de que negro é quem possui um oitavo de sangue negro, vamos cair na mesma esparrela que eles caíram. Se formos apurar aqui as ascendências de cada um, acabaremos por endossar a tese de Gilberto Freyre, de que toda história de família brasileira passa, obrigatoriamente, pela beira do rio ou pela cozinha.
Dizendo, porém, que sempre existirá, nessa história, lugar para uma lavadeira mulata ou preta, ou uma cozinheira mulata ou preta, não será por aí que poderemos avaliar a situação. Quem deve se definir como negro, branco, mulato ou afro-descendente é o próprio indivíduo.

As categorias do IBGE
Carlos Hasenbalg, sociólogo de muita fama no Brasil, talvez tenha sido quem sugeriu ao IBGE colocar no censo demográfico as categorias brancos, pardos e negros.
Contra a qualificação de "pardos" houve, no entanto, a opinião de um antropólogo norte-americano de grande valor, o saudoso Marvin Harris. Trabalhei com ele em 1992 em Rio de Contas, uma cidade do interior baiano. Ele elaborou, naquela ocasião, um quadro no qual apareciam doze desenhos de caras de pessoas, feitos por um desenhista especializado, retratando vários tipos de feição facial. Interrogávamos a cada inquirido, com quem ele achava que se parecia, para saber se ele se considerava branco, mulato, negro e assim por diante. Marvin Harris queria que fosse excluída a expressão "pardos" dos quadros referenciais dos recenseamentos brasileiros. Posteriormente, ele escreveu sobre o assunto um artigo denominado "Who are White?", que foi publicado em Social Forces, mas, infelizmente, nunca foi traduzido para o português.
Aqui, em Salvador, quando olhavam para mim, na infância ou na adolescência, nunca me chamaram de branco, que significava ser "alvo", o que eu não era, mas de "moreno". Essa expressão, "moreno", era muito usual. Havia famílias brancas nas quais havia "alvos" e "morenos". Os que não eram "alvos", tão "brancos", assim como eu, eram chamados de "morenos". Não sei se em outro lugar era assim também. Fora daí havia os pretos e os mulatos.
Existia, também, uma variedade enorme de denominações para os tipos raciais. Mas o que acontecia era que cada um desses tipos possuía uma posição firmada e conhecida dentro da sociedade. Os brancos, incluindo os morenos, eram os donos da bola, os que dirigiam a sociedade. Os mulatos procuravam seguir os modos de ser, os hábitos e os costumes dos brancos, para se igualarem a eles e usufruir seus privilégios. Enquanto os pretos, sem instrução, quase sempre analfabetos e pobres, não podiam se revelar como eram, não tinham mesmo uma concepção exata de si próprios.

A questão religiosa
ESTUDOS AVANÇADOS - Como o senhor vê essa relação entre o problema religioso e os negros, na Bahia?
Waldir de Freitas Oliveira - O problema afro-religioso na Bahia já foi muito mais importante, pois houve uma época em que as casas de candomblé representavam os únicos núcleos de resistência negra contra o predomínio da cultura branca. As mães-de-santo eram obedecidas, exerciam uma posição de liderança inegável sobre a população negra. O candomblé deixou de ser, contudo, ao meu ver, essa coisa vital para o negro baiano. Mas no passado foi essencial. Naturalmente, por sua importância, era um culto perseguido. As mães-de-santo perderam, no entanto, muito de seu antigo prestígio e seus lugares foram, aos poucos, ocupados por aqueles que hoje levantam a bandeira da negritude, da reparação, da identidade negra, sem se afastar, por completo, do candomblé, mesmo no Carnaval.

O Museu Afro-Brasileiro
Quando se pensou na criação do Museu Afro-Brasileiro, eu era diretor do CEAO. O professor Michel Parent, inspetor dos monumentos históricos do Ministério da Cultura da França e então consultor da Unesco junto à então chamada Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, veio à Bahia em meados de 1967, a fim de discutir comigo e planejar, em conjunto com outras pessoas, a instalação desse museu. Mas os participantes mais atuantes dos movimentos negros queriam que ele se chamasse Museu do Negro. Manifestei minha discordância e defendi a idéia de que ele deveria ser denominado Museu Afro-Brasileiro. Argumentei que se fosse criado um Museu do Negro, teríamos a obrigação de também organizar um Museu do Mulato, um outro do Caboclo, assim como outros museus referentes aos vários tipos raciais componentes da sociedade brasileira. Porque eu não via e não vejo o negro no Brasil como uma unidade, mas como uma mescla cultural. O representante da Unesco concordou e o museu acabou sendo criado, e se mantém com o nome de Museu Afro-Brasileiro, integrado à Universidade Federal da Bahia. Continuo a pensar que agi certo naquela ocasião.

20 de novembro de 2007 - São Paulo - Afro-brasileiros exigem fim do regime de apartheid!




São Paulo – Brasil - Os números evidenciam o racismo e o regime de apartheid, na América do Sul. No Brasil, por exemplo, de quase 5 mil municípios, apenas 267 oficializaram o feriado de 20 de novembro, em reconhecimento ao herói nacioanl, Zumbi dos Palmares.A institucionalização do feriado, em 20 de novembro, dia em que os portugueses assassinaram, em 1695, o líder de Quilombo dos Palmares, principal foco de resistência ao projeto genocida da escravidão, não chega nem a 5 por cento da totalidade dos municipios brasileiros. Entre outras, as cidades que que adotaram a data como feriado estão: União dos Palmares (AL), Manaus (AM), Flores de Goiás (GO), Itapecerica (MG), Cuiabá (MT), Marabá (PA), Dona Inês (PB), Macaparana (PE), Rio de Janeiro (RJ), Vilhena (RO), Pacatuba (SE) e São Paulo (SP). No Amazonas, somente há 4 anos, se movimenta a Semana da Consciência Negra. As atividades são desenvolvidas de forma coletiva por entidades representadas no Fórum Permanente de Afro-Descendentes do estado (Fopaam), que reúne cerca de 25 instituições. O Movimento Negro de São Paulo realizou, contudo, o maior ato anti-racista do País. Mais de 12 mil militantes e ativistas de centenas de organizações enegreceram a corredor financeiro da cidade, a Avenida Paulista. (Corredor cultural e financeiro e um dos principais centros econômicos da América Latina, a avenida Paulista reúne 11 sedes de bancos e 29 agências bancárias. Circulam por ela diariamente cerca de 1,5 milhão de pessoas e 100 mil veículos).



























Nos cerca de 2, 7 km de extensão do maior centro finaceiro da América Latina, centenas de organizações e entidades políticas, divididas em 20 alas (modelo do desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) ) exibiram seus trios-elétricos (estrutura da cultura da Bahia) denúncias contra a pobreza e a miséria que massacram a maioria da população: os negros. A marcha culminou com shows de capoeira, afoxé, e a bateria da Escola de Samba, Leandro de Itaquera, na Praça Ramos de Azevedo, às 22 horas. A manisfestação, porém, durou todo o dia. A concentração foi no vão central do Museu de Arte de São Paulo, às 10 horas da manhã. A discussão em torno da reparação do povo negro foi um dos destaques da marcha. - Em quase 200 milhões brasileiros, somos mais de 70% de afro-descendentes. A maior parte do nosso povo preto está nas penitenciárias, nos hospícios, nas favelas, nos guetos” . A afirmação é do Dr. Marco Antonio Zito, Presidente da Comissão e Assuntos anti-discriminatórios da Ordem dos Advogados do Estado de São Paulo. Dr. Umberto Adami, advogado do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Presidente) completa: -No Brasil, a quase totalidade dos afrodescendentes vivem à margem do processo produtivo. Não há espaço no mercado de trabalho, nos sistemas educacional, habitacional e de saúde. Lutamos contra este apartheid brasileiro. Depois de 300 anos de escravidão, nosso povo preto exige reparação já! Reparação Já, exige também Dojival Vieira. Coordenador da 2ª PARADA NEGRA do Movimento Brasil Afirmativo. "Somos um movimento de articulação das lideranças negras cuja luta prioriza políticas públicas para diminuir o abismo social e racial.Lutamos pelas ações afirmativas, cotas e, claro, acerto da monstruosa dívida que o Brasil tem com o povo negro. Reparação é uma bandeira irreversível". Segundo, Vieira, O Movimento Brasil Afirmativo dispôe de núcleos em Belo Horizonte, Salvador, Distrito Federal, Goiânia e Rio de Janeiro.

Che Guevara Morre o homem fica o mito


Revolucionário e líder político latino-americano, cuja negação a aderir-se tanto ao capitalismo quanto ao comunismo ortodoxo, transformou-o num emblema da luta socialista. Por sua aparência selvagem, romântica e revolucionária, Che Guevara significa hoje uma lenda para os jovens revolucionários de todo o mundo, um exemplo de fidelidade e total devoção à união dos povos subjugados.Ernesto Guevara de la Serna nasce na cidade argentina de Rosário no dia 14 de junho de 1928, no seio de uma família aristocrática porém de idéias socialistas. Desde pequeno sofre ataques de asma e por essa razão em 1932 se muda para as serras de Córdoba. Estudou grande parte do ensino fundamental em casa com sua mãe. Na biblioteca de sua casa havia obras de Marx, Engels e Lenin, com os quais se familiarizou em sua adolescência.Em 1947 Ernesto entra na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, motivado em primeiro lugar por sua própria doença e desenvolvendo logo um especial interesse pela lepra. Durante 1952, realiza uma longa jornada pela América Latina, junto com seu amigo Alberto Granados, percorrendo o sul da Argentina, o Chile, o Peru, a Colômbia e a Venezuela. Observam, se interessam por tudo, analisam a realidade com olho crítico e pensamento profundo. Ernesto regressa a Buenos Aires decidido a terminar o curso e no dia 12 de julho de 1953 recebe o título de médico.Em julho de 1953, inicia sua segunda viagem pela América Latina. Nessa oportunidade visita Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, El Salvador e Guatemala. Ao visitar as minas de cobre, as povoações indígenas e os leprosários, Ernesto dá mostras de seu profundo humanismo, vai crescendo e agigantando seu modo revolucionário de pensar e seu firme antiimperialismo. Na Guatemala conhece Hilda Gadea, com quem se casa e de cuja união nasce sua primeira filha.Convencido de que a revolução era a única solução possível para acabar com as injustiças sociais existentes na América Latina, em 1954 Guevara marcha rumo ao México, onde se une ao movimento integrado por revolucionários cubanos seguidores de Fidel Castro. Foi aí onde ele ganhou o apelido de "Che", por seu jeito argentino de falar.A fins da década de 1950, quando Fidel e os guerrilheiros invadem Cuba, Che os acompanha, primeiro como doutor e logo assumindo o comando do exército revolucionário. Finalmente, no dia 31 de dezembro de 1958, cai o ditador cubano Fulgencio Batista.Após o triunfo da Revolução, Che Guevara se transforma na mão direita de Fidel Castro no novo governo de Cuba. É nomeado Ministro da Indústria e posteriormente Presidente do Banco Nacional. Desempenha simultaneamente outras tarefas diversas, de caráter militar, político e diplomático. Em 1959 casa-se, em segundas núpcias, com sua companheira de luta, Aleida March de la Torre, com quem terá mais quatro filhos. Visitam juntos vários países comunistas da Europa Oriental e da Ásia.Oposto energicamente à influência norte-americana no Terceiro Mundo, a presença de Guevara foi decisiva na configuração do regime de Fidel e na aproximação cubana ao bloco comunista, abandonando os tradicionais laços que tinham unido Cuba e Estados Unidos.Em 1962, após uma conferência no Uruguai, volta à Argentina e também visita o Brasil. Che Guevara esteve ainda em vários países africanos, principalmente no Congo. Lá lutou junto com os revolucionários antibelgas, levando uma força de 120 cubanos. Depois de muitas batalhas, terminaram derrotados e no outono de 1965 ele pediu a Fidel que retirasse a ajuda cubana.Desde então, Che deixou de aparecer em atividades públicas. Sua missão como embaixador das idéias da Revolução Cubana tinha chegado ao fim. Em 1966, junto a Fidel, prepara uma nova missão na Bolívia, como líder dos camponeses e mineiros contrários ao governo militar. A tentativa acabou significando sua captura e posterior execução no dia 9 de outubro de 1967. Os restos do Che descansam no mausoléu da Praça Ernesto Che Guevara em Santa Clara, Cuba."Nasci na Argentina; não é um segredo para ninguém. Sou cubano e também sou argentino e, se não se ofendem as ilustríssimas senhorias da América Latina, me sinto tão patriota da América Latina, de qualquer país da América Latina, que no momento em que fosse necessário, estaria disposto a entregar a minha vida pela liberação de qualquer um dos países da América Latina, sem pedir nada para ninguém, sem exigir nada, sem explorar ninguém."O SOCIALISMO E O HOMEM EM CUBA (1965)«O caminho é longo e cheio de dificuldades. Às vezes, por extraviar a estrada, temos que retroceder; outras, por caminhar depressa demais, nos separamos das massas; em ocasiões, por ir lentamente sentimos de perto o hálito daqueles que pisam nos nossos calcanhares. Em nossa ambição de revolucionários, tratamos de caminhar o mais depressa possível, abrindo caminhos, mas sabemos que temos que nutrir-nos da massa e que esta só poderá avançar mais rápido se for alentada com nosso exemplo.»MENSAGEM AOS POVOS DO MUNDO (1967)«Toda a nossa ação é um grito de guerra contra o imperialismo e um clamor pela unidade dos povos contra o grande inimigo do gênero humano: os Estados Unidos da América do Norte. Em qualquer lugar que a morte nos surpreenda, que seja bem-vinda, sempre que esse, nosso grito de guerra, tenha chegado até um ouvido receptivo, e outra mão se estenda para empunhar nossas armas, e outros homens se prestem a entoar os cantos pesarosos com estrondos de metralhadoras e novos gritos de guerra e de vitória.»