quinta-feira

A elegância sutil do Cortejo Afro/Especial Carnaval 2008


Criado e comandado pelo artista plástico e designer Alberto Pita no final da década passada, o Cortejo Afro conseguiu um lugar entre a elite dos blocos afros, destacando-se sobretudo pelo apuro estético. Não por acaso, adota o slogan “elegantemente sofisticado”. A cada ano consegue – mesmo com muitas queixas de falta de patrocinadores – levar às ruas um desfile bonito, bem pensado e estruturado. Este ano, quem esperava o desfile em tons azul, branco e prata, marcas do Cortejo, se surpreendeu com sua passagem nos circuitos Osmar (sexta) e Dodô (domingo e segunda).
Em seu sexto Carnaval, o bloco apostou numa cartela bem mais variada de cores, com destaque para o vermelho e os tons terrosos. Tudo para levar às ruas com propriedade o tema Nações indígenas, num resgate de vários elementos da tradição indígena e dos antigos blocos de índio do Carnaval baiano. Muita pena, cocares e figurinos diferenciados para os cantores, diretoria, associados, ala de frente e até para os cordeiros, que receberam uma espécie de capa. Nas fantasias, um trecho da música Um índio, de Caetano Veloso.
O trio elétrico do Cortejo, um dos mais bonitos do Carnaval, foi inteiramente decorado, recebendo nas laterais representações de totens indígenas. “Queremos homenagear as várias nações e chamar atenção para casos como o do índio Galdino, que foi queimado vivo. Também estamos homenageando o Apaxes, o Comanches e os antigos blocos baianos, que por sua vez faziam referência aos índios americanos”, destacou Mônica Pitta, vice-presidente do Cortejo. Este ano, continuou, contaram com cerca de 2,5 mil associados. A ala de frente trouxe um grupo de senhoras do Mais Social, todas com mais de 55 anos.
Um dos destaques do desfile foi a bateria turbinada, com 230 homens e mulheres, 80 deles integrantes do grupo percussivo parisiense Batalá. A presença de grande número de estrangeiros – e de pessoas brancas – chama atenção no Cortejo, principalmente se comparado a outros blocos afros da cidade. Se os mais conservadores vêem o fato como um problema, para os associados esta é uma qualidade. “Acho que o Cortejo traz uma coisa nova. É sério e consegue interagir com todas as tribos”, destacou o cabeleireiro Elder Andrade, que acompanha o bloco desde o começo.
Também admirador do Cortejo, o secretário de cultura Márcio Meirelles, que desfilou no bloco na sexta-feira e no dia seguinte esteve na saída do Ilê, estabeleceu um paralelo entre os dois: “O Ilê é mais raiz, é a base. O Cortejo é a outra ponta. De alguma maneira elas se encontram e dialogam”, comparou. No desfile de domingo, o bloco foi brindado com a presença da modelo inglesa Naomi Campbell.
Se o Cortejo Afro já tem uma identidade visual incontestável, ainda lhe falta uma presença musical mais efetiva na folia. A ala de puxadores, que já contou com a cantora Mariene de Castro, Portela e Aloísio Menezes, é atualmente formada por Walmir de Brito e Marquinhos Marques. Especialmente para o Carnaval, contou com Márcia Short e Gerônimo, além do músico americano Arto Lindsay. “Participei dos ensaios, mas do Carnaval é a primeira vez”, afirmou Márcia Short. Com uma longa trajetória na festa, ela disse que o convite lhe proporcionou um antigo desejo, o de puxar um bloco afro, apenas voz e percussão. “Estou realizando um sonho. Vou colocar um pouco do Cortejo na minha história e um pouco da minha história no Cortejo”, prometeu.
No desfile de segunda-feira, no circuito Dodô, o carro alegórico do Cortejo Afro sofreu um princípio de incêndio, provocado pela alta temperatura de um refletor. O acidente, registrado pela Defesa Civil de Salvador (Codesal), foi controlado com o desligamento do equipamento e a farra continuou.

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