domingo

Samba de roda, patrimônio da humanidade


Por Gilberto Gil
Ministro da Cultura
Por considerar que, em sua diversidade, as manifestações culturais imateriais ou impalpáveis são patrimônio importante – e mesmo fundamental – da humanidade, a Unesco aprovou a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.O Brasil, que consagrou o patrimônio imaterial em sua legislação em 2000, tem agora a possibilidade de contribuir para o enriquecimento do patrimônio imaterial da humanidade. O título de Obra-prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, conferido pela Unesco a manifestações culturais de diversos países, já tem dois representantes brasileiros: a pintura corporal e arte gráfica dos índios Wajãpi, desde 2003, e o Samba de Roda no Recôncavo Baiano, aprovado em novembro de 2005, durante a Terceira Proclamação.O Samba de Roda do Recôncavo Baiano merece o estatuto desse reconhecimento. Ele é um dos fundamentos de uma grande manifestação muito mais complexa, que é o samba brasileiro em seu todo. E, mais que isso, é a fonte, a matriz preservada de onde emana toda a grandeza dessa expressão musical.Sou um músico brasileiro que tem o Samba de Roda em sua formação básica. Até hoje, mesmo depois de meu contato e de minha natural contaminação com outros tipos de samba – como o carioca, o eletrificado e cosmopolita de Salvador e o de todo o Brasil – o impulso musical, estético de minha relação com o samba vem, basicamente, da vertente da Bahia, que é a mais natural, a mais próxima, a mais epidérmica na minha vida.Essa proximidade me mostra claramente que o Samba de Roda, que tem vida em Cachoeira, Santo Amaro, São Francisco do Conde, em todo o Recôncavo, continua fulgurando. Mas, por estar ligado a comunidades economicamente frágeis, acaba se ressentindo e precisa ser apoiado. Ao fortalecê-lo, estaremos alimentando a raiz e beneficiando a árvore toda e todos os galhos que saíram do Samba de Roda.

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