terça-feira

Asa Filho mantém tradição do Reisado em São Vicente

A ORCARE, Organização Cultural e Artística Reisado de São Vicente, funciona na sede do Distrito de Tiquaruçu, Feira de Santana, Bahia, foi fundada em 20 de julho de 2003. Tem como objetivo principal fortalecer a nossa cidadania, resgatando nossas culturas de Raízes, na qual fomos todos criados.

O cantor e Compositor Asa Filho, nascido no distrito, vem ao longo dos anos trabalhando neste projeto da Festa de Reis, fortificando a nossa cultura regional, tendo como exemplo as apresentações do grupo Reisado de São Vicente, que vem se destacando hoje no cenário nacional. Matérias diversas já foram exibidas pela TV Globo, TV Bahia, TV Subaé e recentemente a TVE tem mostrado a essência da nossa cultura em diversas apresentações de grupos localizados em todas as cidades do estado da Bahia.

O grupo é formado de 14 homens e 10 mulheres, sambistas tocadores de tambor e pandeiro, viola e sanfona. Cantadores dos labores de nossas caatingas, cada qual carregando consigo o sabor do suor do seu rosto quando escorrido no trabalho braçal. As cantigas de roda, adivinhações, batuques do nosso recôncavo também são valorizados, pois é na poesia de um cantador e tantos outros é que encontramos os versos para serem propriamente cantados.

“Nosso próximo passo agora é a execução de um projeto de um livro e um CD intitulado de Apelos e Canções, que está sendo elaborado, com recursos do Fazcultura, na esperança de capitação, para que esta “Obra” venha coroar a nossa luta em Feira de Santana”, Asa Filho é o autor deste trabalho que ele considera um compendio. Lembrando que este trabalho foi elaborado muito antes da fundação do grupo, mas o autor atrela a ORCARE pelo fato do mesmo pertencer a Academia de Letras e Ares de Feira de Santana.

Depois da fundação do grupo de Reisado de São Vicente, veio a reflorescer com mais profissionalismo os outros grupos que mantinham os seus trabalhos em estado de hibernação. As Quixabeiras da Lagoa da Camisa e Matinha, claro, não se viram ameaçados e sim fortificados. Precisamos sim, sermos mais compreendidos e valorizados. Feira de Santana precisa abraçar suas culturas e realmente estão aí dispostos a fazer Cultura. Não podemos ser nivelados por um. Cada qual com seu talento, diversificando esta gama de poetas cantadores, autores e atores.

A cidade cresce em todos os aspectos, mas sem a educação e a cultura lá na frente ela vai sofrer por ser letal. È preciso levar a nossa arte para o campo do conhecimento, “nas escolas nas ruas nos campos e nas construções”.


Asa Filho – 75 3483 2740 e 3224 1238 - Rua H, 331 Cj. João Paulo II
Membro da Academia de Letras e Artes de Feira de Santana
Endereço eletrônico:
agustinhodeziza@yahoo.com.br
Nível superior completo.
Fundador da ORCARE e ORACC - Cidade da Cultura – espaço direcionado funcionando em Feira de Santana de quinta a sábado que tem como preservação a Caatinga e o tema Vaqueiro, na rua H 170 Conjunto João Paulo II Feira BA.

Nossos agradecimentos ao poeta Asa Filho

segunda-feira

Negros ganham voz em Salvador

Negros ganham voz em Salvador A Secretaria Municipal da Reparação é a primeira do Brasil a lutar contra as seqüelas da discriminação racial.Berço da maior população negra do Brasil, a cidade de Salvador concentra índices alarmantes de desigualdade social entre raças e cores. Uma realidade de segregação que se arrasta desde os primórdios da colonização tem motivado a indignação e a luta de movimentos negros que começaram a se articular nos anos 70, com o objetivo de dar voz à maioria oprimida pela minoria branca. Depois de década de espera, os afrodescendentes da capital baiana finalmente comemoram a criação de um órgão governamental para respaldar as bandeiras levantadas pela sociedade civil em prol da emancipação de negros e mestiços.
- Reparar é parar duas vezes: a primeira, diante do espanto; a segunda, diante do discernimento para agir. Minha luta é suprapartidária e meu partido é a negritude - afirmou Arany, sem filiação partidária, fundadora do Movimento Negro Unificado e diretora do Ilê Aiyê, movimento negro mais antigo do Brasil. Dos quase 2,5 milhões de habitantes de Salvador, 86% são negros e mestiços, segundo dados do IBGE. A maioria deles não tem acesso à educação, à saúde ou à habitação e vive aglomerada em favelas e bairros superpopulosos, como a Liberdade, com 600 mil moradores. A Secretaria da Reparação vai atuar junto aos movimentos de luta contra a discriminação racial, cuja tarefa será fornecer dados e suprir as principais demandas da população negra marginalizada. Para João Jorge, presidente do Olodum, um dos maiores blocos afros de Salvador, a iniciativa será de extrema importância porque se propõe a traçar uma radiografia dos dilemas sofridos pela população negra. - Vamos colaborar intensamente com informações sobre as maiores deficiências e propondo políticas afirmativas para minimizar as desigualdades raciais - afirmou João Jorge, salientando que são poucos os negros a ocuparem cargos públicos e postos de trabalho em shoppings e grandes empresas. Única negra a conquistar uma das 16 secretarias municipais, Arany Santana não esconde a ansiedade por mudanças e corre atrás do tempo perdido. Convocou, como primeira tarefa da secretaria, uma reunião com o Fórum de Entidades Negras da Bahia, no Pelourinho, para discutir a composição da equipe e seu papel perante a comunidade negra. Funcionando inicialmente com 13 integrantes, o órgão tem 40 funcionários ''escolhidos pelo critério da competência e não pelo da cor'', frisou Arany. Da esfera municipal para a federal, os projetos da Secretaria da Reparação já circulam pelos corredores do Palácio do Planalto, onde a secretária reuniu-se recentemente com representantes dos ministérios do Trabalho e da Cultura, com o presidente da Fundação Palmares, Ubiratan de Castro, e com parlamentares que encabeçam propostas ligadas a questões raciais, Menina dos olhos da secretaria, a educação tem recebido atenção especial por ser considerada o pilar de uma estrutura que sustenta setores igualmente essenciais, como habitação e inclusão no mercado de trabalho. - É por meio da educação que se inicia o processo de reparação. A partir da consciência de suas raízes e seus direitos, o negro aguça o senso crítico e clama por mudanças profundas - justifica a secretária. Neste sentido, Arany anunciou a parceria entre a Fundação Palmares e a Universidade Federal da Bahia (UFBA) para produção de livros didáticos sobre questões raciais. As obras serão utilizadas nas aulas de história e cultura africanas, disciplina que a secretaria pretende implantar em toda a rede municipal e estadual. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2001 revelaram que 6,7% da população com mais de 15 anos na região metropolitana de Salvador eram analfabetos. Entre brancos, o índice baixa para menos da metade: 3,3%. Os negros têm 10,1% dessa fatia da população sem saber ler ou escrever. Entre pardos, 6,5% são analfabetos. O mesmo abismo social se reproduz na taxa de rendimento mensal da população ocupada. Enquanto a minoria branca de menos de 20% da população arrecada R$ 1.233,42, os negros recebem média de R$ 497,82, ou seja, um terço do valor. - Queremos implementar políticas de microcrédito para estimular pequenos empreendedores negros a desenvolver seu próprio negócio - planeja Arany. A área da saúde é outro setor a ser cuidado com esmero pela nova secretaria. O órgão pretende fazer, com o apoio das secretarias municipal e estadual de Saúde, um diagnóstico nas regiões de incidência da anemia falciforme, doença que atinge exclusivamente a população negra. Segundo Arany, de cada 500 bebês negros, um nasce com a deficiência. Ao definir sua missão, afirma que ''não há tempo para falhas'' e cita um provérbio africano. - Ao elefante, os marfins não lhe pesam. O elefante que simboliza a África, a imponência cultural, seu legado e reconhecimento ainda que tardio. Um corpo volumoso formado por tantos corpos, a manada. Um elefante que chama à reflexão e à objetividade. Assim, não pesarão os instrumentos de marfim, que, soltos e sem contexto, embelezam menos - filosofa.

domingo

A praia de Armação na Boca do Rio era um dos principais pontos de desembarque ilegal de escravos em salvador

Algumas praias de Salvador guardam histórias que nem sempre são conhecidas pelos seus moradores. A exemplo, a praia de Armação uma enseada antes conhecida como praia do Chega Nego era um dos maiores pontos de chegada de negros trazidos da África, servindo para o desembarque clandestino de escravos durante o período em que o tráfico oficial foi proibido.

Os escravos eram depositados numa senzala construída á beira da praia até serem comercializados, lugar este, conhecido como casa de pedra que hoje está localizado a casa de show e restaurante Tropicana ao lado do restaurante Yemanjá na avenida Otavio Mangabeira.

Trafico de escravos - Escravos estes que foram trazidos para os diferentes países das Américas e das Antilhas, provenientes de regiões da África escalonadas de maneira descontínua, ao longo da costa ocidental, entre Senegâmbia e Angola. Provenientes, também, da costa oriental de Moçambique e da ilha de São Lourenço, nome dado época a Madagascar.Disso resultou, no Novo Mundo, Uma multidão de cativos que não falava a mesma língua, possuindo hábitos de vida diferentes e religiões distintas. Em comum, não tinham senão a infelicidade de estar, todos eles, reduzidos à escravidão, longe das suas terras de origem.

Negocio perverso - As viagens eram feitas em tenebrosos navios negreiros, com centenas de pessoas empilhadas em porões fétidos, recebendo cotas mínimas de água e alimento, apenas o suficiente para não morrer, pois a "mercadoria" era preciosa.Na África antiga, uma vida humana podia ser trocada por um punhado de conchas ou alguns litros de aguardente ou uns sacos de tabaco ou alguns metros de tecido ou uma dúzia de braceletes. Havia outras moedas de troca, mas a mais valiosa de todas, sem dúvida, era a arma de fogo. Armas que garantiam o poder militar, político e econômico de um grupo tribal sobre outro, sustentaram infinitas guerras e, assim, geraram batalhões de prisioneiros que, em porões de navios, vieram povoar e construir a América.Na Bahia, até o século XIX, o tráfico de escravos enriqueceu muita gente, como Joaquim Pereira Marinho, cuja estátua ainda pode ser vista em frente ao Hospital Santa Izabel. O tráfico de escravos foi a maior fonte de renda na Bahia até meados do século XIX.

Novos escravos - Os tenebrosos navios negreiros fazem parte do passado, contudo, negras e mestiças ainda são vítimas de uma rede internacional de prostituição. Diferente dos seus ancestrais, muitas vezes vendidos por traficantes também negros e africanos, as afrodescendentes são seduzidas e enganadas por estrangeiros com promessas de casamento e prosperidade. E acabam submetidas à prostituição.


Reportagem: Suzana Tavares

sábado

Observatório Racial e Sexista vai atuar no Carnaval 2008 em Salvador

A Secretaria Municipal da Reparação (Semur), pelo terceiro ano consecutivo, atuará no Carnaval com o projeto Observatório Racial e Sexista com o objetivo de mapear atos de racismo e de violência contra a mulher no circuito da folia. A equipe do Observatório é composta por 50 profissionais, entre eles advogados, jornalistas, antropólogos, sociólogos, assistentes sociais e servidores públicos que trabalham simultaneamente espalhados nos circuitos oficiais do Carnaval. A equipe vai começar a circular, em regime de plantão, a partir das 8 horas da quinta-feira, dia 31, quando inicia a folia, e só vai parar na manhã da Quarta-feira de Cinzas. Nas ruas, vão identificar situações de discriminação e de violência, além de passarem orientações aos agredidos sobre formas de defesa. Será instalado um posto na ladeira de São Bento, no estacionamento ao lado do edifício da Semur, na Avenida Sete de Setembro, nº 74, próximo à Praça Castro Alves, um dos principais pontos de passagem dos blocos. O observatório realizará atendimento e orientação jurídica às pessoas vítimas de discriminação racial e a mulheres vítimas de violência. Também fornecerá dicas de saúde, orientações a turistas e vai dispor de um posto policial para registro de ocorrências. O projeto inclui ainda visibilidade de mídia para os temas relacionados à participação da população negra no Carnaval como o desfile dos blocos afro, de samba, afoxés, reggae, o Carnaval nos bairros e o trabalho informal de negros e negras como cordeiros, ambulantes e catadores de latinha etc.
Resultados do observatório
Em 2006, primeiro ano do projeto, foram contabilizadas 128 ocorrências, ligadas à violência policial, trabalho infantil, cordeiros trabalhando sem equipamentos, dificuldades dos blocos afro, entre outros casos que vitimaram afrodescendentes. Já em 2007, com o slogan "Daqui a Folia é observada com outros olhos", o observatório funcionou em regime de plantão, reunindo as atividades de combate à violência racial e contra as mulheres, atuando também nas áreas de turismo e cultura, ocupação e renda, Comunicação e saúde. Foram registradas mais de 300 ocorrências pelas equipes, incluindo denúncias de cordeiros dos blocos, que apontavam as más condições de trabalho, alimentação sem qualidade, tratamento igualitário entre homens e mulheres nas cordas - muitas delas grávidas -, além de crianças catando latas. O observatório também buscou dar visibilidade midiática para os temas relacionados à participação da população negra no Carnaval, como o desfile dos blocos afro, de samba, afoxés, reggae, o Carnaval nos bairros e o trabalho informal de negros e negras. Os funcionários da Semur acompanharam as atividades dos cordeiros, ambulantes e catadores de lata, nos circuitos oficiais do Carnaval, observando suas condições de trabalho. O projeto disponibilizou ainda orientação jurídica às pessoas vítimas de discriminação racial, através de um plantão de advogados.

quinta-feira

Blocos Afros: Ação social e militância no carnaval de salvador

Militantes históricos do movimento negro na Bahia divulgam realizações de inclusão social.

Um encontro entre as principais lideranças dos blocos afros de Salvador foi realizado no Baobá Café Social. O bate-papo intitulado “Somos mais que Carnavais”, teve o objetivo de divulgar para público as intervenções sociais promovidas pelos blocos nas comunidades onde estão sediados. Na mesa, os diretores do Cortejo Afro, Alberto Pitta, do Olodum, João Jorge, e do grupo “Os Negões”, Valmir França, falaram sobre suas trajetórias e sobre os avanços obtidos pelos afrodescendentes após a politização dos blocos de origem negra.Fundado em 1982, o bloco “Os Negões” foi criado por jovens negros que ansiavam por sair no Carnaval de Salvador. Na sua primeira participação, o grupo contou com 72 componentes e homenageou o músico e compositor Batatinha. De lá para cá, o bloco ganhou dimensões maiores, tornando-se cada vez mais consciente do seu papel na sociedade. “Nos últimos cinco anos estabelecemos uma ligação mais forte com música engajada, que combate o racismo e a discriminação”, afirmou Walmir França, um dos fundadores do grupo.Já o grupo Cortejo Afro, fundado em 1990 pelo artista plástico Alberto Pitta, nasceu com a proposta modernizadora em termos de som, estética e postura mais crítica. Após se firmar como um dos blocos afro mais importantes de Salvador, o Cortejo voltou-se para a área social, oferecendo cursos gratuitos para jovens e crianças do Conjunto Pirajá I. Dentro do Terreiro Ilê Axé Oyá, de mãe Santinha, 40 alunos aprendem dança, música, percussão e capoeira. “Temos ainda um projeto pronto para ensinar tênis e natação para as crianças, estamos agora em busca de patrocínio”, declarou Pitta.Revolução Olodum“O Olodum foi uma revolução dentro da revolução”, assim declarou João Jorge ao falar sobre o surgimento de um dos blocos que mais contribuíram com a conscientização do Carnaval da Bahia. Até 1983 os grupos afro não tinham assumido a própria negritude e nem tinham um toque musical que os identificasse. Somente após as iniciativas de renovação do Olodum, outros blocos passaram a se comportar com mais autenticidade. A composição “Faraó”, de 1987, tornou-se um marco da música baiana e alavancou o sucesso do grupo, mas haviam objetivos mais profundos. “Queríamos transformar o carnaval festivo em ações afirmativas dentro das comunidades negras”, afirmou João Jorge.Hoje, o Grupo Cultural Olodum oferece cursos de percussão à crianças e, em conseqüência, empregos a centenas de jovens músicos. Além disso, desde 2001 o grupo mantém um convênio com a Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), que reserva aos seus componentes quatro bolsas de estudos em cursos de graduação. Afirmando ser um “dinossauro da militância”, João Jorge parafraseou Nelson Mandela: “Luto contra qualquer tipo de supremacia, seja ela branca ou negra”.

Página virtual dos terreiros de salvador já pode ser acessada


Após oito meses de pesquisa, secretarias municipais lançam site com dados de 1.159 Terreiros de diversas nações.

Uma parceria entre a Secretaria Municipal da Reparação (Semur), de Habitação (Sehab), a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade (Seppir) e a Fundação Palmares, promoveu o lançamento do site do Mapeamento dos Terreiros de Salvador. O evento, transmitido ao vivo pela internet direto da Praça Municipal, encerrou as comemorações do Novembro Negro e contou com a presença de diversos representantes de casas religiosas e autoridades do poder público.A pesquisa, coordenada pelo historiador Jocélio Teles, durou oito meses e foi realizada pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (Ceao). O objetivo era fazer uma radiografia das casas religiosas em atividade em Salvador e na Ilha de Maré, levantando dados sócio-ambientais e culturais, além de identificar as nações de cada uma delas. Ainda assim, houve alguma resistência. “Cerca de 30 terreiros se recusaram a participar e isso ainda é um reflexo da perseguição sofrida por eles no passado”, afirmou Teles. No total, foram registrados 1.159 Terreiros, a maioria deles localizados em bairros como Plataforma, Cajazeiras, Paripe, Liberdade e Cosme de Farias.Para o Pai Raimundo, do Centro Umbandista Paz e Justiça, iniciativas como as do mapeamento de Terreiros é a confirmação de um lugar que sempre pertenceu aos adeptos das religiões de matrizes africanas. “Não estamos pedindo nada, merecemos uma posição de destaque na sociedade e agora estamos nos aliando às novas tecnologias”, declarou. Ele ainda se queixou da falta de união entre o povo de santo. “Hoje esta praça deveria estar lotada”, concluiu.O subsecretário da Semur, Antônio Cosme, acredita que ações originadas pela Prefeitura representam um avanço sem precedentes na história de Salvador. “O Estado sempre perseguiu o Candomblé. Hoje, esse mesmo Estado promove a reparação disponibilizando meios democráticos de acesso à informação”, disse. Para ele, um site com conteúdo afro-religioso pode despertar o interesse das comunidades pela tecnologia, minimizando a exclusão digital na capital baiana.Para acessar o site do Mapeamento dos Terreiros, clique aqui

sábado

Um centro dedicado à pesquisa dos negros

EM SALVADOR existe uma instituição universitária que, há 45 anos, realiza pesquisas sobre as comunidades negras em nosso país, assim como suas origens na África. Trata-se do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), da Universidade Federal da Bahia. Localizado no principal logradouro do Pelourinho, ele mantém um profundo relacionamento com os baianos, pois se dedica a estudar a vida, o sofrimento e as lutas dos escravos e de seus descendentes, vale dizer, de quase 80% da população do Estado.

Para recolher as lições desse núcleo acadêmico, entrevistamos o antropólogo Jocélio Teles, seu atual diretor, que rememorou conosco os trabalhos de pesquisadores que há várias décadas contribuem para desvendar a trajetória de uma população simultaneamente oprimida pela desigualdade social e pelos preconceitos raciais.
A estrutura e o trabalho do CEAO
Revista Afro Bahia - Professor, o que é o Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia? Qual é sua estrutura?
Jocélio Teles - O CEAO é um órgão suplementar da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Foi criado em 1959 pelo professor George Agostinho da Silva e, inicialmente, era ligado à reitoria da Universidade. Ou seja, não tinha, como hoje, autonomia administrativa e acadêmica. Nossas atividades estão voltadas para cursos de graduação e de pós-graduação. Nele atuam professores do Departamento de História - João José Reis, que é editor da revista Afro-Ásia e Valdemir Zamparoni, coeditor dessa revista - e professores do Departamento de Antropologia, Lívio Sansone, Jéferson Bacelar e eu.
Não temos um quadro de pesquisadores fora do âmbito da UFBA. Todavia, fazemos convênios com diversas universidades estrangeiras, algumas norte-americanas, e também com a Universidade de Ilê Ifé, da Nigéria. Com esses convênios recebemos pesquisadores, que passam aqui um determinado período, recebendo apoio logístico - biblioteca, participação em discussões e seminários etc.
Como exemplo, o professor Lívio Sansone, que coordena um projeto chamado Fábrica de Idéias, conta com o apoio da Fundação Sephis, da Holanda, e da Fundação Ford. Esse patrocínio tem sido fundamental porque, em cada ano, entre o mês de junho e agosto, selecionamos cerca de quarenta pós-graduandos, do Brasil e do exterior, para cursos sobre relações sociais e a identidade negra, numa pesquisa comparativa. Temos mestrandos e doutorandos de várias universidades brasileiras - como USP, Unicamp, UFRJ, Universidade Federal do Pará etc. - e também de países como Angola, Moçambique, Guiné Bissau. No ano passado, recebemos um aluno da Argentina e outro da Itália. No período de cinco semanas, os estudantes têm aulas compactadas sobre essa temática.
Além disso, na Fábrica de Idéias oferecemos cursos e seminários com professores visitantes. Nossas prioridades são os professores de universidades do chamado Terceiro Mundo. Infelizmente, temos recebido poucos profissionais de países como Índia, Indonésia ou mesmo da África, se comparados com os que vêm de países do Norte. Esses professores permanecem aqui uma semana e apresentam suas pesquisas, que normalmente giram em torno da temática racial ou nacional. Entendemos que essa é uma forma de incentivarmos o diálogo Sul-Sul.
O relacionamento internacional
O CEAO foi criado dentro da contexto da "guerra-fria" e o projeto era de que, com a política externa independente, lançada pelo presidente Jânio Quadros, o Brasil tivesse um papel de liderança dentro desse eixo, envolvendo Índia, Egito, Nigéria, China e o nosso país. Observamos isso ao longo desses 45 anos e o papel que o Centro teve nesse processo foi muito gratificante. É curioso que, no momento, essa atividade sirva como apoio à política externa do presidente Lula.
Revista Afro Bahia- Na USP há muitos africanos nos cursos tradicionais. Na UFBA há bolsas para esses estudantes?
Jocélio Teles - Assim como as outras universidades, a UFBA recebe estudantes do continente africano, através da bolsa "Estudante Convênio". Todos os anos eles vêm para diversos cursos, como Medicina, Administração, Arquitetura, Ciências Sociais etc. Além disso, temos um convênio com a Universidade de Ilê Ifé, que possibilita a vinda de um doutorando para estudar no Instituto de Letras da UFBA.
Temos um curso de língua e civilização iorubá, aqui no Centro. Em razão da tradição afro-religiosa na Bahia, é o curso de extensão mais procurado, tanto por universitários como por pessoas sem formação acadêmica, e muitas vezes por interessados que nem terminaram o ensino fundamental. Em média, passam por ele, semestralmente, sessenta alunos. Há também o oferecimento de cursos de língua banto e de língua e civilização árabe, que são menos procurados.
Revista Afro Bahia- Continua sendo realizado o projeto de enviar pesquisadores para a África?
Jocélio Teles - Não. Naquele período houve uma política de estímulo do Itamaraty, por meio da concessão de bolsas e de financiamentos. Posteriormente, o Ministério das Relações Exteriores deixou de exercer esse papel. Todavia, esperamos retomar esse caminho, pois desejamos formar jovens que conheçam a África. Queremos também a vinda de pesquisadores africanos. É claro que para o estabelecimento desse intercâmbio com a África, no nível da pós-graduação, é necessário o apoio da Capes e do CNPq. Pois não é suficiente que isso aconteça só em relação aos EUA e à Europa.
Pesquisas sobre a discriminação racial.

Revista Afro Bahia - Quais foram as principais pesquisas realizadas recentemente e quais são os projetos mais importantes do CEAO?

Jocélio Teles - O professor Valdemir Zamparoni trabalha com Moçambique e o professor João José Reis produziu aquele belo livro sobre a revolta dos malês. Estamos agora preparando um livro sobre a repressão aos candomblés no século XIX, com uma documentação policial e também jornalística. O professor Jeferson Bacelar, na elaboração de sua tese de doutorado, pesquisou a trajetória de um ator negro chamado Mário Gusmão, muito conhecido no período do Cinema Novo. No CEAO há uma orientação para os alunos de pós-graduação em ciências sociais pesquisarem o preconceito racial.
Faremos, ainda, no segundo semestre deste ano, um curso de especialização em estudos etno-raciais e africanos, em pós-graduação. Há uma grande demanda em torno desse tema, pois ainda não há um curso desse porte no país. E essa demanda foi intensificada pela lei nº 10.639, sancionada pelo presidente Lula, em que consta a obrigatoriedade de os currículos escolares apresentarem a temática da história e da cultura afro-brasileiras.
A questão das cotas nas universidades.

Revista Afro Bahia- Já há opinião majoritária na UFBA sobre a questão das cotas para o ingresso na universidade?

Jocélio Teles - Faço parte do grupo de trabalho, instituído pela reitoria, para a proposição, ao Conselho de Ensino e Pesquisa, de uma política de ação afirmativa na UFBA. O problema de cotas está incluso nessa discussão. Nesse grupo de trabalho - em que participam professores, alunos e o corpo de servidores - o indicativo é a adoção de uma política de ação afirmativa, não só para negros, mas também para índios.
Estamos examinando como essa política pode ser efetivada na preparação para o vestibular, no ingresso na universidade, na permanência, e no que chamamos de pós-permanência, ou seja, na pós-graduação, ou até mesmo para a atuação no mundo fora da universidade. Provavelmente em março essa proposta será apresentada ao Conselho.

Revista Afro Bahia - O sr. tem dados do vestibular sobre o ingresso de afro-descendentes na UFBA?

Jocélio Teles - Temos dados do vestibular de 2001. Nele, havia 51% de pretos e pardos. Esse número parece ser muito positivo, mas quando se vê a distribuição nos cursos da UFBA, aí a realidade é dramática. Por exemplo, em cursos de menor concorrência, os pretos e pardos têm uma representação acima de 40% - Biblioteconomia: 61,67%; Física (noturno): 72,5%; Geologia: 62%; Química: 52,5%; Matemática: 50%; Estatística: 57,5%; Enfermagem: 46,3%.Em cursos de maior concorrência e prestígio, há uma inversão - Direito, Odontologia e Arquitetura: 22,5%; Medicina: 28,8%; Comunicação: 15%. Assim, os negros estão sub-representados na universidade e os brancos estão sobre-representados, já que estes representam apenas 20% da população, em oposição àqueles que são mais de 78% da população da Bahia e de Salvador.

Discriminação contra os brancos?

Revista Afro Bahia- Qual é a designação mais usada aqui em relação aos que não são brancos?

Jocélio Teles - Há uma etiqueta das relações sociais no Brasil, que deve ser vista levando em conta as diversas formas de classificação. Há a do IBGE: branco, preto, pardo, amarelo e indígena; temos a classificação do cotidiano: preto, mulato, marrom, cor de disco etc.; outros usam a designação bipolar do movimento negro: brancos e negros (semelhante à dos EUA); ademais, há a classificação do mundo acadêmico, muito próxima àquela do movimento negro, ou seja, pretos e pardos são vistos como negros, porque a posição deles na estrutura hierárquica brasileira é diferente daquela dos brancos.
Acredito que as terminologias preto e negro são pertinentes na etiqueta das relações sociais para os grupos sociais que as utilizam. Por exemplo: tornou-se politicamente incorreto falar-se preto a partir do ressurgimento dos movimentos negros, principalmente na Bahia, na segunda metade da década de 1970. A palavra negro tornou-se uma reivindicação de orgulho e preto caiu em desuso. É óbvio que a palavra preto continua sendo usada, mas a carga política positiva recai na palavra negro.

As ações afirmativas
Revista Afro Bahia - O sr. não sente que existe também um sentimento oposto, ou seja, de discriminação contra o branco? Por exemplo, o bloco Ilê Ayê não aceita pessoas de cor mais clara.

Jocélio Teles - Temos de entender que, pela própria constituição desses grupos, eles foram totalmente marginalizados, como o Ilê Ayê que, quando desfilou, recebeu ataques violentos do jornal A Tarde. A forma como esses grupos, em resposta ao preconceito racial, criaram sua identidade, advém de uma identidade cristalizada com base no discurso racial. Lembro-me de uma frase de Sartre quando afirmava que os judeus foram criados pelo anti-semitismo.
Enfim, é um racismo anti-racismo. Ou, como falamos, é um tipo de racialismo. O campo das relações raciais é o campo da política, do confronto e da distinção. Não percebo como preconceito racial o fato de um grupo considerado marginal - e a história negra é história da marginalização no país - reagir criando espaços de racialização. O Ilê deverá continuar décadas e décadas com essa auto-afirmação, porque se o Ilê perder o referencial racialista, ele perde sua identidade, o orgulho negro dos anos de 1970.

revista Afro Bahia - Como o sr. vê o apoio aos empreendedores negros, ou seja, a implantação de medidas afirmativas no sentido de estimular um desenvolvimento econômico de empresas de propriedade de afro-descendentes?
Jocélio Teles - Nos últimos tempos, surgiu uma nova dinâmica na sociedade brasileira em relação à questão racial. Se o negro era pensado como objeto, a partir das décadas de 1960 e 1970 passou a ser pensado como fabricador de uma política cultural voltada para o desenvolvimento turístico da Bahia. A dinâmica tem impulsionado ações governamentais nesse sentido. É uma grande novidade, principalmente a partir da Conferência de Durban, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, quando começou a sinalização das ações afirmativas no Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Contudo, o dado mais relevante é que essas políticas oficiais não surgem do nada, pois atendem a uma demanda que se apresenta. Hoje temos dezenas de organizações não-governamentais fazendo políticas de ação afirmativa com apoio federal ou de instituições norte-americanas e européias. Então, essa demanda tem a ver com uma conjuntura internacional que, depois da Conferência de Durban, provocou no Brasil a necessidade de promover políticas de ação afirmativa para a população negra e indígena.
E não deixa de ser surpreendente a própria instituição de cotas em algumas universidades e a discussão de como serão implementadas em outras instituições as políticas compensatórias.

sexta-feira

Comunidade aprova projeto para a festa de Iemanjá



Novidades foram apresentadas pelo ditretor de Festas Populares da Emtursa, ao lado de Carlinhos Brown, Neto Bala e Ray Viana.


A comunidade do Rio Vermelho aprovou o projeto para o Carnaval no Rio Vermelho apresentado pelo diretor da Festas Pupulares da Emtursa – Empresa de Turismo S/A, Paulo Roberto Carvalho. Ele se reuniu no Centro Cultural Caballeros de Santiago, com moradores e lideranças do bairro onde há 84 anos acontece a Festa de Iemanjá no dia 2 de fevereiro. Este ano a coincidência desta data com o sábado de Carnaval motivou o projeto para incorporar a folia às homenagens à Rainha do Mar sem, contudo, como observou Paulo Roberto, intervir da parte religiosa que é sagrada para o povo de santo. Juntamente com os cantores Neto Bala e Carlinhos Brown, o diretor da Emtursa apresentou toda a estrutura que está sendo preparada para a festa de Iemanjá no dia 2 de fevereiro. A parte cenográfica foi apresentada pelo artista plástico Ray Viana que preparou decoração especial, “um presente especial que a Prefeitura vai oferecer a Iemanjá e aos moradores do Rio Vermelho”, como destacou. Ao longo de toda a principal rua do bairro, uma enorme rede de pesca com 600 metros de comprimento por 12 de largura, cheia de peixes e búzios, cobrirá os participantes. Como explicou Ray Viana, “serão peixes e búzios como símbolos e elementos da fartura que gira em torno de Iemanjá”. Ele contou ainda que prepara o dorso de um peixe dourado e vasado em aço, com nove metros de altura por 4,5 de altura, a ser instalado em frente à principal praia. Grandes rosas brancas serão colocadas nos postes ao lado da praia e dez barcos brancos estarão à disposição do público para qualquer tipo de intervenção artística. RESGATE DE TRADIÇÕES Carlinhos Brown falou sobre a emoção de participar da festa - ele que é devoto da Rainha do Mar que que, há muitos anos, também leva as suas oferendas. Destacou a oportunidade que se tem agora em resgatar essa que é das mais belas tradições do culto-afro brasileiro através da coincidência da data cair no Carnaval. A grandiosidade da festa do Rio Vermelho é conhecida em todo o mundo como a maior homenagem à Rainha do Mar, disse Brown. A programação musical também agradou os presentes ao encontro, que comprenderam, mais uma vez, que a festa será sem trios elétricos nas ruas. O Carnaval está no calendário, mas a festa religiosa terá prioridade. A Fubica da Mariquita, com Armandinho, Dodô e Osmar, também puxará os foliões com saída do Largo da Mariquita ás 21h. Ao final, Brown presenteou os participantes com uma canção de nomeOdoiara, que fez especialmente para Iemanjá. Além de não permitir a presença de trios ou mini-trios, a Emtursa vai montar cinco palcos ao longo do bairro. Após o horário de entrega do presente para Iemanjá diversos artistas vão se apresentar, a exemplo de Carlinhos Brown, Gerônimo, Mariene de Castro e Neto Bala, além de apresentações de música instrumental, sambas-de-roda do Recôncavo, de raiz, jazz e rock.

quinta-feira

Concurso vai eleger negro mais bonito em Salvador


O Bloco afro Os Negões é responsável pela eleição, que acontece no dia 26 de janeiro.Coroa será entregue pela Deusa do Ébano, eleita no sábado (12).


Não é só a beleza negra feminina que está em pauta no carnaval em Salvador. Depois da eleição da Deusa do Ébano, neste sábado (12), já estão abertas as inscrições para eleger o Negro Lindo. O evento será realizado no dia 26 pelo bloco afro Os Negões, que desfila em Salvador com o tema "África do Sul, 13 anos de liberdade".

Esta é a terceira edição do concurso. Em 2007, o eleito foi Paulo Henrique Carvalho. Os interessados devem se inscrever na sede do bloco, que fica na Avenida Vasco da Gama, até o dia 18 de janeiro. Segundo a organização do concurso, as inscrições podem ser feitas apenas por rapazes com mais de 18 anos. Os candidatos passarão por uma entrevista, onde terão de demonstrar o conhecimento sobre a cultura negra e a história do negro no país. Apenas dez selecionados vão participar da final.

O eleito vai receber um prêmio de R$ 1 mil. A coroa será entregue por Adriana Santos Silva, 24 anos, atual Deusa do Ébano, na sede do bloco afro Os Negões, a partir das 20h.

terça-feira

Eleita a Deusa de Ébano 2008 do Ilê Ayê



Adriana Santos Silva, de 24 anos, foi eleita a Deusa de Ébano do Ilê Ayê 2008. A 29ª edição da Noite da Beleza Negra aconteceu no sábado (12), pela primeira vez, na sede do bloco afro, a Senzala do Barro Preto, na ladeira do Curuzu.
O resultado do concurso saiu por volta das 3h30 da madrugada deste domingo (13). Adriana estava competindo pela terceira e última vez -- o regulamento do concurso não permite que uma candidata participe mais de três vezes, mas a insistência deu sorte: ela ganhou como prêmio, além de um troféu, uma soma no valor de R$ 2,5 mil reais.
Setenta candidatas se inscreveram na edição de 2008 do concurso que elege a dona da estética que melhor representa a valorização, respeito, a ancestralidade africana e a luta negra. Quinze finalistas estiveram presentes na Noite da Beleza Negra, e, dentre elas, foi Adriana quem caiu no gosto dos jurados. Emocionada, se disse surpresa por ter ganhado prêmio da noite: 'vim mesmo só para curtir a festa'. A vencedora deste ano recebeu a condecoração da Deusa de Ébano 2007, Fernanda Ramos do Nascimento, de 20 anos.
Na 29ª edição da Noite da Belza Negra se apresentou a banda EME XXI, formada pelas cantoras Carla Visi, Márcia Short e Cátia Guimma. Também animaram a noite a cantora Paula Lima, a Band'Aiyê e o Grupo Kilombo, da Colômbia.
Adenilton Cerqueira

sexta-feira

OS VÁRIOS PRECONCEITOS


A discussão sobre a inclusão do negro na educação e na economia tomou conta do Brasil nos últimos anos. Uma das faces mais visíveis dessa discussão são as quotas em universidades para estudantes negros, que virou um dos pontos de afirmação, de um lado, e de negação, do outro. A discussão prossegue, com opiniões a favor e contra. E não vai ser resolvida tão cedo.
O problema, na verdade, não se restringe ao acesso do negro à universidade, mas se prende, sim, a uma questão maior, que é o próprio preconceito racial. Sim, ele existe no Brasil. Está disfarçado, sim. Mas sua existência não pode ser negada. E o pior é que, no caso do preconceito, ele não atinge só o negro, mas abrange, também, o pobre, o nordestino, os sexualmente diferentes, enfim, quem não se enquadra no padrão branco do que Henfil chamava de Sul Maravilha.
Vivendo com e sob este imenso preconceito, nada melhor do que dedicarmos um dia - pelo menos um - para abordar o assunto e declarar que queremos um país livre de preconceitos, a começar pelo racial, que é a parte mais visível deste tipo de comportamento.
Sabemos que não existe igualdade absoluta, mas que os diferentes sejam, pelo menos, tratados como seres humanos, o que muitas vezes não são. Somente no dia em que o fosso social não mais existir é que o Brasil será, efetivamente, um país grande.

MAS O QUE É PRECONCEITO?
Segundo a Wikipedia é "uma atitude discriminatória que se baseia nos conhecimentos surgidos em determinado momento como se revelassem verdades sobre pessoas ou lugares determinados. Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém ao que lhe é diferente. As formas mais comuns de preconceito são o social, racial e sexual".
Olhe ao lado e você verá que amigos próximos, inimigos distantes, gente do nosso círculo, de quem gostamos e quem detestamos têm este comportamento. E que ele, na verdade, é muito comum. E é contra ele que todos nós devemos lutar.



PONTOS NUMA ESCALA
Como o preconceito não é uma exclusividade brasileira, também lá fora ele tem sido fruto de estudos. E um dos estudiosos foi Gordon Allport, que a partir de seus estudos e na publicação de um livro, estabeleceu uma escala de classificação para os níveis de preconceito.
Se olharmos o caso basileiro na Escala de Allport vemos que estamos no terceiro nível, que é o seguinte:
Discriminação: O grupo minoritário é discriminado negando-lhe oportunidades e serviços e acrescentando preconceito à ação. Os comportamentos têm por objetivo específico prejudicar o grupo minoritário impedindo-o de atingir seus objetivos, obtendo educação ou empregos etc. O grupo majoritário está tentando ativamente prejudicar o minoritário.



O QUE QUEREMOS?
Constatado que há, no Brasil, discriminação - e uma pesquisa desta revista mostrou que os leitores têm clareza disso - o que queremos é chamar a atenção para o problema, partindo da discriminação racial, mas chegando a todo tipo de discriminação. Colocando o problema às claras, deixando de mascará-lo, podemos enfrentá-lo e fazer com que a discriminação vá diminuindo.
Mas falar não é o bastante. É preciso fazer. E o primeiro passo não depende de ninguém a não ser nós mesmos. Portanto, vamos começar por adotar uma postura de tolerância, de aceitação da diferença e deixar de ver o negro, o pobre, o diferente como sendo uma ameaça para nós.
Eles, no final, querem o mesmo que queremos: viver com dignidade.
Adenilton Cerqueira

terça-feira

Carnaval 2008 de Salvador homenageia capoeira e faz grande festa para Iemanjá

A capoeira será homenageada no carnaval de Salvador em 2008, cujo tema é O Coração do Mundo Bate Aqui. Os mestres João Pequeno, do grupo Capoeira Angola, e Dr. Decânio, do Capoeira Regional, foram convidados para ser os símbolos da festa, que este ano começa mais cedo, no dia 2 de fevereiro, mesma data em que se comemora o dia de Iemanjá.
A coincidência vai ajudar a movimentar ainda mais a capital baiana, que promete três dias de festa para a rainha do mar ao invés de, um como de costume, respeitando-se o caráter tradicional e religioso da comemoração.
Segundo o diretor de Eventos e Festas populares da Empresa Municipal de Turismo (Emtursa), Paulo Roberto Carvalho, a idéia é fazer uma festa para Iemanjá em torno da tradicional homenagem que é realizado todo ano no Rio Vermelho, mas também ampliar para um novo espaço, onde bandas de sopro e percussão, blocos infantis e cortejos afros vão tocar no chão, animando todo o percurso.

sexta-feira

Ó Pai ó volta para o Vila Velha


Depois do sucesso da estréia do filme Ó Paí ó, com grandes platéias na Concha Acústica de Salvador, em São Paulo e no Rio de Janeiro, o Bando de Teatro Olodum segue em cartaz com a peça que despertou todo este interesse nacional pelo cotidiano dos moradores do Centro Histórico de Salvador. A peça Ó Paí ó, com o elenco do Bando de Teatro Olodum e atores convidados da primeira versão de 1992, será apresentada no Teatro Vila Velha, todas as segundas-feiras de abril até o dia 23, sempre às 20h. Em um Cortiço , administrado com mão de ferro por uma evangélica, moram os mais diferentes tipos que movimentavam o Centro Histórico. A realidade do Pelourinho Antigo é apresentada através de personagens cômicos que dividem o ambiente do pequeno cortiço, tendo que enfrentar a intolerância de Dona Joana, a religiosa proprietária. São músicos, artistas plásticos, prostitutas, travestis, baianas de acarajé, proprietários de pequenos bares, associações comunitárias, blocos afros, enfim, personagens reais que foram expulsas para dar espaço a um fictício shopping turístico a céu aberto. A montagem do Bando retrata um dia na vida desses diversos tipos que viviam no Centro Histórico. Um dia especial: uma Terça-feira de Benção, quando a movimentação na área era ampliada e também as alegrias e sofrimentos dos moradores de uma região estigmatizada e abandonada pelas autoridades. Enquanto se preparam para curtir a farra da Terça da Benção, os moradores precisam enfrentar a falta de água no prédio (ação proposital da proprietária) e o extermínio de crianças da área a mando de comerciantes interessados na "limpeza étnica" do local para aumentar a atração de turistas. Tudo discutido com criatividade, consciência racial e deboche, marcas definitivas das produções do Bando de Teatro Olodum. Cinema - o sucesso do filme de Monique Gardemberg inspirado na peça, que teve pré-estréia na Concha Acústica do TCA para mais de 5 mil pessoas e reuniu famosos no Rio de Janeiro e em São Paulo, tem despertado o interesse do público em conhecer ou rever a montagem original do Bando. A versão que está sendo apresentada no Vila Velha traz semelhanças em relação a da estréia, em 1992. As atrizes Tânia Tôko, Edvana Carvalho e Luciana Souza, ex-integrantes do Bando que participaram da montagem inicial foram convidadas a reviverem seus personagens no filme e na peça. A trilha sonora é uma das grandes novidades dessa montagem, já que na primeira versão o tom era dado pelas composições do Grupo Olodum. Para esta nova montagem, o diretor musical Jarbas Bittencourt compôs músicas originais. O samba reggae, ritmo criado no Centro Histórico, é elemento forte na peça, tocado e cantado, o vivo, pelo elenco. A movimentação também traz novidades, pois o coreógrafo do Bando, Zebrinha, valorizou os antigos passos da dança de rua com técnicas da dança moderna. Maturidade - Para a atriz Valdinéia Soriano, uma das fundadoras do Bando de Teatro Olodum, essa nova montagem de Ó Pai ó revela a experiência adquirida pelo Bando após 16 anos de trajetória e da encenação de diferentes gêneros teatrais como clássicos da dramaturgia mundial, teatro de cordel, musicais etc. "A maturidade e o aprendizado nos possibilitam uma limpeza das cenas, articulação melhor das idéias e das palavras e uma melhor utilização dos recursos técnicos como a música e as coreografias".
Reportagem
Jamile Menezes 87488744/99867941 jamyllem@hotmail.com

Carnaval de Salvador - Blocos afro exigem mudanças


Em 2008, entidades negras tradicionais do Carnaval baiano ameaçam não desfilar se não houver mudanças radicais na gestão da festa.


"O pior Carnaval de todos os tempos", afirmou o coordenador do Fórum de Entidades Negras, Walmir França. O apartheid do Carnaval baiano veio à tona mais uma vez, nos desfiles oficiais e na imprensa. "Em 2008, o Carnaval de Salvador pode não ter a presença daqueles que fazem dele o que ele é", afirmou França. O Carnaval de 2007 em Salvador, na opinião de dirigentes de Blocos, marcou o início de um novo pensamento da festa a partir de 2008. "Foi um Carnaval dramático, difícil. A festa este ano demonstrou ainda mais a fragilidade desse processo de políticas públicas voltadas para a população negra em Salvador, por parte dos órgãos governamentais", diz o presidente do Bloco Afro Olodum, João Jorge Rodrigues. O Bloco Olodum, junto ao Ilê Aiyê, Cortejo Afro, Male DeBalê, dentre outros integrantes do Fórum de Entidades Negras, tiveram o Carnaval ameaçado por conta do indefinido repasse de verbas por parte do governo federal. O atraso se deu por conta da ação movida pelo Ministério Público, que pediu a suspensão do incentivo fiscal diante de denúncias de irregularidades na prestação de conta dos blocos que compõem o Fórum. "As denúncias partiram, infelizmente, de outras entidades também negras. O que foi aproveitado pela Prefeitura, de forma oportunista, para desconstruir nosso discurso sobre reparação e diminuir ainda mais os recursos voltados para as entidades. Isso teve um impacto muito negativo para todo o segmento de Blocos Afro e Afoxés, piorando ainda mais a dificuldade histórica que temos em conseguir patrocínio e investimentos, principalmente junto à iniciativa privada Mas tudo já foi elucidado por parte do Fórum e não há nenhuma irregularidade em nossas contas," afirma João Jorge.Mudanças - A Prefeitura Municipal, através da Empresa de Turismo de Salvador (Emtursa), já anunciou que, a partir de 2008, não estará mais nas negociações de recursos com os Blocos Afros. "Foi dada ao governo municipal a chance de nos dizer coisas do tipo "acabou a mordomia, a mamata dos Blocos Afro", tirando de si a responsabilidade para com a questão negra no Carnaval. De 1962 para cá, Blocos como Internacionais, Camaleão, Cheiro de Amor, por exemplo, tiveram, todos eles, essa ‘mordomia’ da Prefeitura. A soma de impostos que deve apenas um desses blocos alcança quase 36 milhões, além de que se criou uma fila inconstitucional para eles desfilarem na frente da televisão, dando a estes grupos o direito de uso do solo da forma que eles quiserem. Tudo isso com o Estado e o Município se omitindo. Isso sim que é mordomia", aponta o presidente do Olodum. Para Walmir França, a decisão é lamentável. "Eles dizem que a Prefeitura está falida, mas nunca vi tanta gente querendo tanto administrar uma coisa que não tem dinheiro", questiona.Planos - Acabado o Carnaval, o Fórum de Entidades Negras prepara uma mobilização já a partir de abril, para chamar a sociedade a tomar parte do debate sobre a presença negra na festa nos próximos anos. "Vamos apresentar um Plano de 15 itens ao governo e à Prefeitura para o Carnaval de Salvador, que beneficiará os Blocos Afros e Afoxés e os Blocos de Percussão. Um dos primeiros itens será a destruição desta fila nos dias principais de desfile no Campo-Grande. A mesma deverá ser por idade, contemplando dois segmentos a cada vez, para que a televisão transmita o desfile de todos. Se você quiser entender o racismo no Carnaval baiano, preste atenção para onde vai o Camaleão, o Eva, a Ivete Sangalo, a Daniela Mercury", diz João Jorge. Além dessa proposta, o Fórum também exige uma mudança na natureza dos recursos repassados às entidades, que deverão constar das leis orçamentárias municipais e estaduais a cada ano. "Isso fará com que não precisemos mais ir pedir ao Prefeito nenhuma migalha para desfilar", pondera o presidente do Olodum. O Plano ainda propõe a criação de um imposto sobre o turismo, nos moldes do que foi instituído na África do Sul para a manutenção de parques nacionais e políticas públicas para as populações mais pobres. "Cada turista que viesse a Salvador, pagaria o valor de R$1, o que seria revertido para um Fundo destinado às entidades afros. Esse Fundo seria administrado pelos órgãos de cultura e destinado somente a instituições carnavalescas negras que existam há, no mínimo, cinco anos, e que desenvolvam atividades educacionais e culturais gratuitas, façam desfiles nos seus bairros e estejam legalizadas para receber esses recursos. O Fundo é exclusivo para entidades culturais afro-brasileiras que desenvolvam, de fato, um trabalho social", argumenta Jorge. Ações - Com todas estas propostas, o Fórum de Entidades Negras pretende conduzir a discussão e negociações com o Ministério da Cultura, solicitando ainda uma intervenção do Ministério Público no Carnaval de Salvador. Para as entidades do Fórum é imprescindível também o debate com as entidades e organizações do movimento negro em nível nacional, sobre a importância do Carnaval para os objetivos desse segmento do movimento social. "A festa hoje não tem mais nada a ver com movimento negro, seja aqui ou no Rio de Janeiro. São estruturas da sociedade dominante, que é branca, de fato. É isso que temos que confrontar e é o que vamos fazer. Neste Carnaval não houve vitoriosos, todos nós perdemos. Haverá agora uma radicalização na disputa do espaço durante a festa e, se não sairmos em 2008, será uma ausência negra coletiva", disse João Jorge.



Reportagem

Jamile Menezes Santos, Estudante de Jornalismo da Faculdade da Cidade do Salvador jamyllem@hotmail.com